HÍFEN – UM PÁRIA GRAMATICAL –
Duas línguas no mundo utilizam a hifenização – o idioma francês e o idioma português –, sendo que este último, desde o seu nascimento no Condado Portucalense, inexistia.
Portugal sempre teve a pretensão linguística de tornar a língua portuguesa unificada perante a ONU, que considera como idiomas oficiais o inglês, o francês, o mandarim, o russo, o espanhol e o árabe. Nada mais!
Entre vários acordos ortográficos celebrados, inúmeras modificações foram feitas, todavia sem alcançar a supressão da excrescência do hífen, algo ininteligível em sua praticidade na conformação das palavras compostas.
A hifenização sempre foi algo a suscitar reflexões, especialmente em comparação com o idioma de Cervantes. Algo bestial, como dizem os lusitanos.
Ao conviver-se com os dois ícones da filologia do idioma português, o saudoso transmontano João Malaca Casteleiro e o brasileiro Evanildo Cavalcante Bechara, em eventos europeus, tornando-me confrade de ambos na Academia das Ciências de Lisboa e amigo em outros colóquios lusófonos, rara oportunidade surgiu.
Assim, sempre se indagou a ambos quem criou o hífen e quando se verificou o seu início, vez que a literatura lusa não continha o tracinho?
Não souberam responder, apesar da notoriedade de ambos e de seus vastos conhecimentos.
Foi-se à luta sem foice…
Foram procedidas consultas na Torre do Tombo, além de pesquisas em inúmeras bibliotecas mundo afora, esforços que redundaram na constatação histórica do inusitado surgimento.
Este esforço hercúleo gerou a outorga do Prêmio Nacional Antenor Nascentes ao livro – A Infernização do Hífen, concedido pela Academia Brasileira de Filologia, em 2017.
Na Mogúncia, Joahnes Gutenberg, gráfico que alavancou a impressão da Bíblia com o advento dos tipos móveis, utilizou o sinal de igualdade (=) para preencher o espaço final de uma frase no ato da composição, fato repudiado pelos aritméticos.
O que fez o tedesco? Simplesmente, eliminou um tracinho (–)!
Por sua vez, os lusitanos, a partir das Ordenações Afonsinas, passaram a separar os vocábulos de nomes compostos num mélangé, como dizem os franceses, invulgar.
Por exemplo: em espanhol, o pássaro se chama benteveo. Na língua portuguesa é conhecido como bem-te-vi. Não poderia ser chamado de bemtevi?
Em italiano para saudar um novo dia, dizem buongiorno. Os espanhóis: bienvenido, enquanto que os portugueses escrevem: bem-vindo!
Não poderia ser bemvindo?
Até os rebuscados franceses sintetizam: bienvenue.
Os ingleses, por sua vez, dizem: welcome.
O Acordo Ortográfico celebrado em 1990, de forma incongruente no dizer do saudoso imortal da Academia Brasileira de Letras, Carlos Heitor Cony, que afirmou taxativamente:
“Tais mudanças fazem do acordo algo INÚTIL E IMPRODUTIVO”.
Ele também afirmou: “a língua é feita pelo povo. Não adianta o governo querer discipliná-la (…) não é a primeira vez que vai se fazer esse acordo. A tendência é daqui algum tempo (a escrita) mudar outra vez. Portugal jamais vai se submeter a certas coisas.”
Marcelo Rebelo da Silva, Presidente de Portugal, quer fazer revisão do acordo, enfatizando que na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa- CPLP, os países Moçambique e Angola, não o ratificaram.
É oportuno relembrar que o acordo foi celebrado pelo Presidente Luiz Inácio da Silva (Honoris Causa da Universidade de Coimbra e de muitas outras?) e Aníbal Cavaco Silva, representantes do Brasil e Portugal, que sofreram críticas de toda ordem, por razões notórias.
O quadro abaixo demonstra um verdadeiro cipoal linguístico, em pleno século XXI, inominável em suas razões gramaticais, quando as nações e seus gentios procuram sistematizar seus conhecimentos pelo universo da praticidade.
Precisamos ter coragem, serenidade e oportunidade para discutir os diversos desafios do idioma frente às novas realidades, no Fórum Internacional da Língua Portuguesa, criado pela Academia de Letras de Brasília, que não se realizou até agora em Oeiras, Portugal, em razão do advento pandêmico. Tudo tem início, meio e fim!
ELEMENTOS OU PALAVRAS | REGRAS | EXEMPLOS | OBSERVAÇÕES; SAIBA MAIS |
José Carlos Gentili – Jornalista, ítalo-brasileiro