HIGIENIZAÇÃO POLÍTICA –
Já são famosas, e até folclóricas, as tais listas de fim de ano. Nascidas durante aqueles arroubos nos quais as pessoas se comprometem, por exemplo, a perder peso, beber menos, ler e estudar mais, aprofundar amizades, comer mais frutas e vegetais… Enfim, são compromissos agendados consigo mesmo, e com outras pessoas, que denotam um desejo de mudança, sabendo-se que muitos desses compromissos não resistem ao fim de janeiro do novo ano – em razão da chegada de novas tentações. É o churrasco na casa de amigos; é o calor que “obriga” um trago a mais na cerveja; é a preguiça e o sono que chegam, tirando a determinação de concluir a leitura daquele livro há tanto tempo encostado… Bom, todos sabem do que estou falando, pois todos – com raras exceções – já passaram pela experiência de montar sua lista de fim de ano e descumpri-la mal o ano novo mostra sua cara e dá seus primeiros passos.
Entretanto, principalmente no segmento feminino, há sempre um item na lista que costuma ser cumprido. É o que diz respeito à faxina de certos ambientes. Gavetas e guarda-roupas que passam por uma arrumação geral (até para acomodar novos itens adquiridos nas promoções de fim de ano); móveis que, após limpos, mudam de posição; estantes que são espanadas e rearrumadas para caber novos livros e revistas (que, como os demais, nunca serão lidos); tralhas há tempo encostadas na garagem e que são doadas ou jogadas no lixo (para darem espaço a novas tralhas)… Gestos e atitudes que marcam as expectativas criadas em relação ao novo ano, muitos deles em razão de tradições, crendices, superstições, simpatias e hábitos os mais diversos, ditados por aquela esperança de que tais procedimentos redundarão em mais bênçãos no ano entrante, como emprego novo, promoção salarial, mais dinheiro no bolso, etc, etc…
Até aqui falamos de listas de cunho particular, de natureza profissional, de mudança de hábitos, de faxinas domésticas… Mas e as que dizem respeito à qualidade de cidadão? Por mais reclusos que sejamos, nós temos obrigações a cumprir como cidadãos, como eleitores. Então, porque também não elaborar uma lista cidadã? Tal lista envolvendo o comportamento em comunidade, como não estacionar em vaga de idosos, não buzinar em frente a igrejas, hospitais. Que tal passar a encarar tais atitudes no novo ano? Outra lista interessante é a de caráter político, eleitoral. E esta é facílima de elaborar, tendo em vista a montanha de evidências a expor a crise que assola o terreno político-institucional brasileiro. Aliás, a elaboração dessa lista é uma obrigação de todo brasileiro que pretenda fazer do país um lugar sério, civilizado e que possa ser repassado, condignamente, a filhos e netos, com sólida perspectiva de futuro.
Será muita bem vinda a elaboração de uma lista assim. Que venha jogar no lixo da vida pública – como se faz com tralhas inservíveis – os agentes da corrupção, da desfaçatez, da roubalheira. Além de um sábio gesto de cidadania, e de maturidade política, tal atitude se traduziria em compromisso de não votar em corrupto, em ladrões, em gestores que afundaram as finanças de suas cidades, de seus estados, das empresas públicas… Que, além disso, desviaram dinheiro do leite das crianças, da merenda das escolas, dos remédios dos idosos. Afinal, porque votar em gente assim? Que estranho fascínio aproxima o brasileiro de todos os rincões, sem exceção, a colocar verdadeiras catraias morais em lugares de destaque na vida pública? Com o estrago feito por tais excrescências, espera-se um aprendizado mínimo por parte do povo brasileiro em relação a essas questões. Por sinal, quando você vai elaborar a sua lista?