HISTÓRIA DA NEFROLOGIA NO RIO GRANDE DO NORTE –
Após concluir a minha formação médica na Faculdade de Medicina da Universidade do Rio Grande do Norte ( UFRN) no ano de 1969, de pronto descartei a possiblidade de ser cirurgião; não me achei atraído por força intrínseca para exercer a bela e empolgante atividade cirúrgica. O coração acolheu o chamado do cérebro e enveredou para o caminho da atividade clínica. Um médico clínico. Confuso na escolha da especialidade a seguir, recorri ao conselho do meu meu professor e grande e querido amigo, Celso Matias. Do franco diálogo fraternal, fui por ele orientado e encorajado à fazer a especialidade de Nefrologia, no Hospital Universitário Professor Edgar Santos, com o Professor Heonir Rocha, seu amigo, o piauense, de nome conhecido e reconhecido nacionalmente como um grande clínico e um expoente da Nefrologia brasileira.
Contatos feitos, tudo acertado, viajei para Salvador, e desde já entrei como residente em Clinica Médica e Nefrologia da Universidade Federal da Bahia. Permaneci por todo ano de 1970, morando no próprio Hospital, procurando a todo momento colher conhecimentos junto ao Professor Heonir, coordenador da Residência. . Retornando à Natal, fiquei agregado ao Hospital Universitário Professor Onofre, aguardando o momento da chamada oficial do concurso para ocupar uma das duas vagas abertas para a disciplina de Nefrologia, até então inexistente no currículo do curso médico.
Concurso realizado com aprovação e ocupação das duas vagas, a segunda, com o colega José Euber Pereira Soares.
A nova disciplina, ficou agregada e vinculada à Cardiologia, constituindo a cadeira de Clinica Médica II.
Ocupei a sua Coordenadoria, onde permaneci até o ano da minha aposentadoria, 1994, procurando dar corpo e visibilidade a disciplina, concentrando os doentes em enfermarias específicas com cuidados especiais.
Criamos o serviço de diálises: a peritoneal e a hemodiálise, essa última utilizando o rim artificial (o AUE II) recebido pelo governo brasileiro através do
Ministério da Saúde, em troca com a Alemanha Oriental, pelo nosso bom café. Colocamos a complicada engenhoca para funcionar graças ao conhecimento e a experiência do colega José Euber com o procedimento hemodialítico em sua pós graduação na cidade do Rio de Janeiro, no Hospital dos Servidores do Estado.
Realizamos a nossa primeira sessão de hemodiálise em março de 1972; um feito científico histórico para nossa medicina.
Foram momentos difíceis e desafiadores, com trabalho exaustivo na preparação da solução de HD, tendo que quebrar de maneira puramente artesanal as duras pedras de sais, seus componentes básicos.
Hoje, são lembranças vivas, de mais de meio século, guardadas e registradas com grande orgulho pelos seus feitores, no inapagável e inesquecível memorial da história da medicina do Rio Grande do Norte e em especial da Nefrologia potiguar.
Berilo de Castro – Médico e Escritor
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