HISTÓRIA DO CARNAVAL –

Alguns estudiosos entendem o Carnaval como uma festa cristã, pois sua origem, na forma como entendemos a festa atualmente, tem relação direta com o jejum quaresmal.

Durante a Idade Média, as festas de Carnaval consistiam, principalmente, em bailes ao ar livre, nas praças públicas, e de serenatas  feitas pelas pessoas mais importantes da cidade.

Os mascarados usavam uma espécie de capuz com duas orelhas bem compridas, que tinham em cada ponta um guiso.

Nem sempre os músicos se saíam  bem nessas serenatas, pois se de algumas  casas recebiam dinheiro e víveres, de outras, como nas dos comerciantes e pessoas ricas e avarentas, recebiam lixo, água suja e até estopa em chamas. Em represália, os músicos atiravam pedras nas  casas, onde eram mal recebidos, sendo,  por sua vez revidados, estabelecendo-se, assim, violentos combates.

Como acontecia quase sempre, resultarem  vários feridos, a polícia proibiu essas festas.  Também os mascarados e blocos grotescos terminavam quase sempre em pauladas, com grande alegria dos espectadores.

Até bem pouco tempo, o Carnaval de Nice (França) era muito afamado, pelos cortejos e carros artisticamente enfeitados. Os desenhos e “maquetes” para esses préstimos eram obras de dois pintores: pai e filho de nome Mossa, pouco conhecidos. Em 1874, Mossa teve a ideia de preparar um cortejo humorístico que tivesse, numa carroça, uma figura que seria proclamada como o rei do Carnaval. Esta inovação foi muito aplaudida, tanto que nos

anos seguintes foram muitos os imitadores, mas nenhum a suplantou.

Nas grandes oficinas de Mossa, quatro ou cinco meses antes do Carnaval, era intenso o trabalho e havia mais de sessenta pessoas trabalhando na confecção dos carros carnavalescos. As figuras eram feitas de papelão ou de armação de arame e depois vestidas. As cabeças eram verdadeiras obras de arte.

Os povos antigos do Oriente costumavam usar máscaras nas cerimônias. Na fabricação dessas máscaras, eles empregavam os materiais mais diversos.

No Museu de Londres ainda se encontra uma máscara  feita de mosaico e malaquita, que foi usada pelos grandes sacerdotes. A malaquita é um carbonato básico de cobre que contém também cromo, cálcio e zinco  e se forma em áreas de oxidação superficial em depósitos do mineral. Os egípcios  faziam as máscaras de lâminas de ouro, de vidro, de uma espécie de cera, cujo segredo de fabricação possuíam, e até de madeira. Essas máscaras de madeira, porém, só serviam para cobrir os rostos das múmias.

Entre os gregos e romanos as máscaras tiveram utilidade menos fúnebre. Durante  o espetáculo, cada ator aparecia com uma máscara  que caracterizava seu papel na cena. Para cada idade, cada ramo social , desde o rei, o herói ou o escravo, havia uma máscara diferente, de modo que qualquer pessoa, por menos inteligente que fosse, que assistisse a um espetáculo, logo reconhecia  em cada ator o personagem que representava.

Em Veneza, o Dooge  – o supremo magistrado – oferecia, durante as  festas do Carnaval, grandes bailes no Palácio do Governo. A “Ridotta” (assim se chamava a festa), reunia toda a nobreza veneziana.

Damas e Cavalheiros ostentavam luxuosas fantasias e exibiam caríssimas joias. Nos jardins, muito bem iluminados por lanternas de cores, também se dançava.

Os mascarados se disfarçavam com meias-máscaras de veludo preto, que tiveram sua origem  na cidade de Veneza, e assim, irreconhecíveis, podiam fazer brincadeiras espirituosas e interessantes, sem correr o risco de serem descobertos.

Durante o baile, os criados percorriam os salões e jardins com bandejas cheias de guloseimas de toda espécie. Porém, algumas dessas gulodices eram recheadas com substâncias amargas, picantes ou então bem azedas, e aqueles que as recebiam faziam caretas, que muito divertiam os outros  convivas. Mas, havia alguns que engoliam depressa o doce, sem dar a perceber aos outros o logro em que haviam caído, enquanto seus companheiros esperavam  atentamente o menor sinal  de repugnância, para estourarem em gostosas gargalhadas.

Repisando, o Carnaval teve sua origem na Antiguidade, onde se celebravam os deuses, e quando se permitia uma alteração na ordem social.

Desta maneira, os escravos e servos assumiam os lugares dos senhores e a população aproveitava para se divertir.

Embora seja conhecido como o país do Carnaval, o Brasil não é o único a comemorá-lo de forma intensa.

Cidades como Veneza (Itália), Nice (França), Nova Orleans (EUA), Ilhas Canárias (Espanha), Oruro (Bolívia) e Barranquilla (Colômbia), também celebram a festa de forma bem animada.

Na Babilônia, se realizava a comemoração das Saceias, onde era permitido que um prisioneiro assumisse a identidade do rei por alguns dias, sendo morto ao fim da comemoração. Igualmente havia uma celebração, no templo do deus Marduk, quando o rei era agredido e humilhado, confirmando a sua inferioridade diante da figura divina.

Já na Grécia Antiga, havia festas para se comemorar a chegada da primavera onde estava permitido que toda população, sem distinção de nascimento, participasse do evento. Celebração semelhante ocorria no Império Romano, na Saturnália, quando as pessoas se mascaravam e passavam dias a brincar, comer e beber.

Com a ascensão do Cristianismo, as festas pagãs ganharam novos significados. Assim, o Carnaval tornou-se a oportunidade dos fiéis despedirem-se de se alimentarem de carne. Inclusive, a palavra carnaval vem do latim carnis levale, que significa “retirar a carne”.

Para a Igreja Católica, o Carnaval antecede a Quaresma, o período de quarenta dias antes da Páscoa, onde se recorda o momento no qual Jesus esteve no deserto e foi tentado pelo demônio. O carnaval de Veneza se caracterizava pelos bailes e trajes ricamente elaborados.

Desde o início da sua comemoração, no Carnaval, as pessoas podiam esconder ou trocar de identidade.

Assim, tinham maior liberdade para se divertir, ao mesmo tempo que podiam adquirir características ou funções diferentes do que eram verdadeiramente: pobres podiam ser ricos, homens podiam ser mulheres, entre outros.

Em Veneza, Máscaras de Carnaval eram usadas pelos nobres, para esconder sua identidade e para que  desfrutassem da festa junto ao povo, na clandestinidade.

Esta é a origem do uso da máscara, que é uma característica marcante desta celebração.

No Brasil, o Carnaval surgiu com o entrudo trazido pelos portugueses. Este consistia numa brincadeira quando as pessoas atiravam água, farinha, ovos e tinta uma nas outras.

Por sua parte, os africanos escravizados se divertiam nestes dias ao som de batuques e ritmos trazidos da África e que se mesclariam com os gêneros musicais portugueses. Esta mistura seria a origem da marchinha de carnaval e do samba, entre muitos outros ritmos musicais.

No começo do século XX, com o objetivo de civilizar a festa, a prática de lançar farinha e água foi proibida. Por isso, as pessoas começaram a importar dos carnavais de Paris e Nice o costume de jogar confetes, serpentinas e buquês de flores.

Com a popularização dos automóveis, as famílias mais abastadas do Rio de Janeiro, Salvador ou Recife, saíam com os carros e jogavam confetes e serpentinas nos passantes.

Esta tradição se manteve até a década de 30, quando se registrou o fim da fabricação dos automóveis descapotáveis e também pelo barateamento dos veículos que permitiam as classes populares entrarem na festa.

O Carnaval de rua era animado pelas marchinhas, um gênero musical parecido com as marchas militares, porém mais rápidas e com letras de duplo sentido. Desta maneira, criticam a sociedade, a classe política e a situação do país de maneira geral.

Considera-se que a primeira marchinha de Carnaval tenha sido “Ò Abre Alas“, escrita em 1899 pela compositora carioca Chiquinha Gonzaga.

Surgem os “ranchos”, as “sociedades carnavalescas” e os “cordões”, agrupações de foliões que saíam pelas ruas da cidade tocando as marchinhas e fazendo todos dançarem.

Com a popularização do rádio, as marchinhas caíram no gosto popular. Vários cantores registraram estas composições, mas cabe destacar os nomes de Carmem Miranda e Francisco Alves como os maiores intérpretes do gênero.

Na década de 60, a marchinha deu lugar ao samba-enredo das escolas de samba.

Começaram a surgir as escolas de samba. A primeira agremiação que surgiu no Rio de Janeiro se chamava “Deixa Falar”, hoje “Estácio de Sá”, em 1928. A origem do nome “escola” se dá ao fato de que os fundadores da “Deixa Falar” estavam num bar em frente a uma escola.

Hoje em dia, elas recebem o nome oficial de “Grêmio Recreativo Escola de Samba”, pois têm o compromisso de difundir a cultura na comunidade onde estão inseridas.

O Carnaval de rua no Rio de Janeiro sofreu um golpe com a construção do “Sambódromo”, que confinava os desfiles a este espaço. A festa passou a ser transmitida pela TV e os ingressos ficaram cada vez mais caros.

Os desfiles das escolas de samba, no Rio de Janeiro, acontecem na marquês de Sapucaí e terminam na Praça da Apoteose.

O Carnaval de rua sobrevivia nos subúrbios com grupos como o “Cacique de Ramos”, no centro da cidade, através de blocos como o “Cordão do Bola Preta” e os “Carmelitas”. Na Zona Sul carioca, havia a “Banda de Ipanema” e o bloco “Imprensa que eu Gamo”, formado por profissionais da comunicação.

Parecia que a festa carioca mais popular estaria destinada aos turistas, mas um grupo de teatro amador, o Boitatá, ressurgiu com o costume de arrastar os foliões pela rua. Atualmente, quase 500 blocos desfilam pelas ruas cariocas.

Por ser um país de dimensões continentais, cada região do Brasil comemora o Carnaval de uma maneira diferente.

Duas capitais nordestinas, Salvador e Recife, destacam-se pela beleza de sua festa, a diversidade cultural e musical.

Em Salvador, os trios elétricos fazem a alegria dos foliões. Sua origem está ligada às batalhas de flores e aos corsos.

O primeiro trio elétrico foi inventado pelos músicos Dodô e Osmar, em 1950, quando utilizaram amplificação elétrica para seus instrumentos musicais. A partir daí, os demais carros fizeram o mesmo.

Dodô e Osmar animaram o carnaval baiano em 1952.

Se no Rio de Janeiro as marchinhas deram a tônica da festa, na Bahia o samba, a batucada, o axé, a timbalada e os grandes grupos de percussão como os “Filhos de Gandhi” são a marca da festa baiana.

A festa carnavalesca da capital de Pernambuco e da cidade de Olinda é animada pelo frevo. Igualmente, os recifenses utilizam os bonecos gigantes nos seus desfiles.

Estes bonecos vieram da Europa, pois em países como a Espanha, são confeccionados enormes figuras de reis, rainha e da corte, que passeiam pela cidade em certas festas religiosas.

A cada ano, as agremiações lançam novos rostos como jogadores de futebol, atores, personalidades que faleceram, heróis dos quadrinhos, etc.

Igualmente, os bonecos são usados para fazer crítica social e é comum ver políticos retratados por estes artistas.

 Ao longo dos anos, o carnaval brasileiro se reinventou, adaptando-se aos tempos modernos sem perder sua essência.

Desfiles de escolas de samba, blocos de rua, bailes de máscaras e festas populares são apenas algumas das formas pelas quais essa festividade se manifesta Brasil afora.

Cada região do país imprime sua marca peculiar no carnaval, refletindo as múltiplas facetas de uma nação tão vasta e diversificada.

Garimpando lirismo na obra “Lira de Poti” -Versos- 1949, do grande poeta Norte-riograndense  ANTÔNIO SOARES (1847 a 1947), da Academia Norte-riograndense de Letras, trago o soneto “Carnaval”(1949).

                CARNAVAL
                  (Poeta Antônio Soares – 1949)

Carnaval! Pelas praças e avenidas,
Sons de clarins e tilintar de guizos;
Verbos galantes, frases atrevidas,
Na confusão dos gestos e dos risos.

Carnaval! Pensamentos indecisos,
Intenções e palavras mal contidas;
Lábios em festa e corações incisos,
Olhos contentes e almas doloridas.

Carnaval! Sob a máscara esquisita,
Quantas vezes, cruel, barbaramente,
Um mundo de misérias não se agita!

Carnaval! Uns instantes de ventura
Trocados, muita vez, levianamente,
Por uma vida inteira de amargura!

Violante Pimentel – Escritora

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