HISTÓRIAS FALADAS E OUVIDAS NA CONFEITARIA ATENEU VII –
Odeman Miranda de Araújo, este é o nome do velho Dema, Deminha, Pai Ta Bom, Man ou Conde do Taiti, apelidos que alguns confeitaristas “arranjaram” para ele.
Odeman, pouco mais de 1,60m de altura, já tinha passado dos oitenta, era um bom homem, amigo, zeloso pela família e como todo bom confeitarista que er, tem também suas histórias e estórias.
Raimundo Martins, carioca mas, natalense por adoção, casou-se com uma potiguar e aqui ficou. Raimundo era uma boa pessoa, trabalhador, mas muito afobado e tinha alergia a gato. Passasse um gato em um raio de uns quinhentos metros da Confeitaria, ele começava a se coçar e dar uns pulinhos gritando – Tem gato perto, tem gato perto…
Odeman deixou uma linha de nylon com um anzol na outra esquina e estirou pelo chão até a Confeitaria (A Confeitaria ainda era na esquina da Seridó). Estacionou um cidadão que lá foi pela primeira vez e a linha ficou por baixo do seu carro. Raimundo chegou, sentou-se no lugar costumeiro e não percebeu a linha por debaixo do carro e da mesa. Odeman foi lá no anzol, colocou um pedaço de peixe e ficou na “mutuca” esperando os gatos. Quando um bichano se aproximou Odeman começou a puxar o nylon devagarzinho em direção a mesa de Raimundo que falava.
– Tem gato, tem gato, tem gato perto, tem gato perto (aumentando a voz) Aiiiiiii…
Puum! Levantou-se ligeiro, sacudiu a mesa e cadeira para cima. A mesa caiu em cima do carro do cidadão que não gostou do que viu e exigiu que a pintura fosse reparada.
De outra vez José Eduardo Villar Cunha, o nosso Zé Dudu, chegou com umas cordas de caranguejo e pediu para Odeman cozinhar (Odeman ficava p da vida quando levamos tira gosto de fora). Pois bem, Dema fez que não ouvia e Zé Dudu insistindo.
– Dema cozinha aqui! Dema cozinha aqui! Pedindo e estirando os braços com as cordas de caranguejo.
Odeman já emputecido, passou, arrebatou os caranguejos das mãos de Zé Dudu e rebolou no meio da rua. Era caranguejo andando pra todos os lados. Todos os presentes ficaram abismados, mas, todos já conheciam os seus ataques e Zé que escrevia muito sobre a França bem que poderia ter escrito sobre L’automne des crabes.
Emanoel Dantas Ribeiro, Mano Dentão, tomou um porre grande e chegando na Confeitaria, foi me abraçando e dando uma dentada no meu pescoço, que rasgou a minha camisa. Chegando em casa tentei explicar a Alzira que aquilo tinha sido uma brincadeira de Mano. Alzira não acreditou e o pau cantou. No outro dia, um sábado, tinha que fazer supermercado e fomos. Alzira continuava sem dar uma palavra. Quando terminamos lhe disse:
– Você pode não falar comigo, mas vou até a Confeitaria tomar uma cerveja. Calada estava, calada ficou – Aí me dirigi até lá. De longe, notei Odeman andando na calçada de um lado para o outro com uma vassoura nas costas. Estranhei aquilo e parei o carro. Odeman olha pra mim e diz
– Você viu o fela da puta do Mano?
– Calma Dema, o que houve?
– Calma uma porra, respondeu Odeman, o fela da puta do Mano pegou a chave da minha camioneta ontem à noite e até agora ninguém sabe por onde ele anda. Quando ele aparecer vou esmagá-lo com essa vassoura, vou torar este cabo de vassouras no seu lombo.
Alzira acreditou na minha história, me pediu mil desculpas e tentou acalmar Odeman.
Mano só veio aparecer no Domingo pela manhã. Isto aconteceu nos anos 70, éramos bastante jovens. Mano hoje não bebe mais e é um próspero empresário.
Helio Rocha ficou de levar a Banda do Siri para animar uma das festas que sempre realizamos por lá. Acertou que chegaria às nove horas da noite. Deu dez e nada de Hélio com a banda. Odeman ficou nervoso, (e quando ele está neste estado de graça, fica pior do que mulher quando descobre que está sendo traída pelo marido) procurou – me dizendo.
– Olha Guga, Hélio é um irresponsável, quando ele chegar aqui vou esculhambar com ele. Espere que você vai ver.
Eu fiquei preocupado porque ia haver uma briga sem necessidade em dia de festa, o nervoso passou a ser eu. De repente escuto o som da banda chegando a Confeitaria. Viro-me e vejo Odeman abraçado com Hélio, dançando na rua e distribuindo um sorriso de orelha a orelha. Só faltaram Joãozinho Trinta, Luma de Oliveira e seu grande amigo Clóvis Bornay para completar a sua alegria. A Confeitaria é assim, cheia de lero-lero mas, alegria geral.
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN