Carlos Alberto Josuá Costa
A idade do vinho? Não sei! Sei a idade que tinha quando provei o primeiro vinho de uma série que se estende até aos dias atuais.
Comecemos, pela importância que “a bebida dos deuses” assumiu nas Bodas de Caná:
“E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia; e estava ali a mãe de Jesus. E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas.
E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho.
Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.
E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes.
Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima.
E disse-lhes: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E levaram.
E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo,E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho” João 2: 1,10
Vamos agora andar no tempo e dar uma parada nos anos 80, não mais na Galiléia, mas em Natal/RN, quando a sofisticação do momento era se reunir para apreciar o “famoso” vinho branco alemão, de qualidade a desejar, com as inconfundíveis garrafas azuis de Liebfraumilch. Um detalhe sutil: além da garrafa azul, tinha que ter o rótulo com a imagem de Nossa Senhora e o menino Jesus.
Estávamos dando os primeiros passos na arte da degustação. Os tintos eram raros e quando trazidos por encomenda de países vizinhos, eram caros.
O foco era o vinho da garrafa azul. Nada de harmonização, taças adequadas, ritual de apreciação, qualidade e aromas ou temperatura recomendada. Bastava um foude, um abridor “peba”, uma conversa fiada, para fazer o deleite de tomar um vinho.
Confrarias, clubes de vinho, praticamente não existiam – notadamente na forma como hoje – quando nos reunimos para estudar desde os terroir até aos rótulos, origens, castas, aromas, taninos, passando pela produção, armazenamento nas caves, adegas profissionais e caseiras, e outros tantos senões que às vezes ”inventamos”.
Hoje, somos verdadeiros Bacos e Dionísios, pela demanda de vinhos que abarrotam as lojas especializadas, os armazéns, os restaurantes, todos eles com uma carta ampla, de várias nacionalidades, branco, rosé, tinto e, preços acessíveis. Estamos envolvidos pelo chamado bouquet do vinho.
Todo apreciador do vinho deve conhecer e distinguir os profissionais que atuam em torno desse mercado vinifico: enófilo – o amante do vinho, enólogo – o elaborador do vinho, e sommelier – o orientador ao cliente.
O Enófilo tem um sentido mais amplo e significa “pessoa que gosta do vinho”, mas que não tem responsabilidade sobre sua elaboração.
O Enólogo é o profissional responsável pela elaboração dos vinhos. A rigor, também é um enófilo, por gostar do vinho.
O Sommelier é o profissional que desempenha suas funções em restaurantes é conhecido como “o maitre das bebidas”. Ou seja, o sommelier deve conhecer, para poder orientar seu cliente – sobre harmonização e tipo de vinho que dispõe na adega e, consequentemente, na ‘carta de vinhos’ para o consumo.
E como apreciar um vinho? De forma simplificada siga as orientações que os especialistas recomendam:
Dê uma boa olhada no vinho verificando sua aparência obtendo assim informações iniciais sobre a qualidade do vinho. Para tal deve-se usar uma taça transparente e lisa, colocando-a contra um fundo branco (pode ser um prato, guardanapo ou a tolha da mesa).
A cor do vinho tinto nos dá uma ideia sobre a idade do vinho. Inicialmente o vinho tinto possui uma cor púrpura intensa e com o tempo essa intensidade vai se perdendo e começa a se tornar mais pálida. A cor do vindo também nos dá uma pista da variedade de uva que foi usada, pois cada variedade produz vinhos de diferente intensidade de cor.
Agite delicadamente a taça, em movimentos circulares, liberando seus aromas pelo aumento de sua área de superfície em contato com o ar. Coloque o nariz dentro da taça e inspire profundamente, na tentativa de identificar os aromas presentes.
Os aromas do vinho na boca invadem as vias superiores e, é a resposta desses receptores que usamos para degustar um vinho. As primeiras impressões podem ser sentidas pelas papilas gustativas, que estão dispersas por vários pontos da língua e também por trás da boca. Assim, enquanto na ponta da língua captam-se os sabores doces, na parte de trás captam-se os amargos.
A sensação final da degustação vem exatamente quando engolimos o vinho, sendo diferente de quando o vinho primeiro tocou nosso paladar. Os sabores podem permanecer por um tempo, o que faz com que descrevamos o vinho como longo ou curto. Quanto mais longo for o sabor mais você irá apreciá-lo, podemos então dizer que um vinho com um sabor longo é um vinho de qualidade superior.
Lembre-se: Degustar vinho é muito bom e, com qualidade, é melhor ainda.
Conheço bons grupos de apreciadores, tais como, o “Sempre Amigos”, com evoluídos apreciadores de Natal, Mossoró e João Pessoa; o “Tropa”, formado por jovens e indecisos casais – quanto ao local e data para se reunir, e o “Maldocks”, que segue direitinho o ritual da apreciação até a terceira garrafa e depois “estraga”, tomando coca-cola.
É como diz minha amiga Swamy Marques: “Homi, vamos tomar um vinho”!
Atualmente estou na fase das vinas, Viu Manent, Leyda, Reynolds, Ravanello e do Vale do São Francisco.
Mas, qual o melhor vinho? É aquele que em você desperta sensações e prazeres gustativos.
“Com a passar dos vinhos, os anos melhoram” (Anônimo)
Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Consultor (josuacosta@uol.com.br)
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