HORA MARCADA –

Tenho uma dificuldade enorme em lidar com atrasos. Tenho planner, planner semanal e diário, agenda no celular. Sou metódica! Em mais de vinte anos em consultório não lembro de ter atrasado um paciente. Em sala de aula também não. Nem como professora, nem como aluna.

Isso tem um lado difícil. Os atrasos parece que corroem meu juízo pouco a pouco…

Então, neste último domingo, após a saga do Sisu (abre, fecha, vê colocação, repensa estratégia, abre, fecha, vê colocação, rep…), veio a saga RESULTADO DO SISU.

O MEC não disse que horas liberaria o resultado. Então, a partir de meia-noite estávamos a postos. Eu, escolas,  outras mães.

Saiu o boato do resultado às 8h, depois 9h, depois 10h, meio-dia, 13h, 16h, 17h…

Faltando cinco minutos para o relógio badalar a meia-noite e virar o dia, vem uma nota do MEC: sairá amanhã o resultado. Sem previsão de hora, sem um “desculpa, foi mal”.

Sim! Algumas escolas planejaram suas festas e elas simplesmente não aconteceram porque A NOTA NÃO SAIU. Alguns pais também. Eu confesso que fiz um bolo que nosso filho ama e pensamos em comer juntos, uma forma simples de celebrar qualquer resultado que chegasse.

Tive uma sensação estranha de ver meu dia passar entre a mensagem do Sisu “Fique calmo! Em breve…” e a luta para não atualizar a página.

Vocês já pediram a alguém para ficar calmo? Vocês já ficaram calmos quando alguém te pediu isso?

Cada vez que eu via o “Fique tranquilo” no site, eu tinha a sensação inversa.

Por fim, apaguei a uma da manhã, rangendo os dentes e com uma luta imensa para manter as lágrimas dentro de mim. Não era um choro por medo, mas pela angústia de viver em um país onde não se respeita seus cidadãos.

Qual a dificuldade em por uma notinha oficial dizendo: “sairá amanhã”? É muito triste esse descaso.

Então, às 8h dou um pulo com um telefonema. Pego meu celular e vejo mil mensagens: BÁRBARA, SAIU O RESULTADO! Elas eram de 6:59h!

Acordei nosso candidato, abrimos o site e seu nome estava lá. Podíamos comemorar essa nova etapa de vida, mas ele preferiu voltar a dormir.

As lágrimas resolveram sair. De alívio, indignação, sensação de viver em meio à incompetência e isso ser considerado normal…

Até quando aceitaremos essas coisas?

Até quando elas acontecerão?

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, autora de “O diário de uma gordinha” e Escritora

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