Segundo o comunicado, “trata-se de uma situação intolerável”.
“A humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres.”
Nas horas seguintes à morte dos palestinos em Gaza, relatos anônimos feitos a diversos veículos imprensa indicaram que as tropas israelenses abriram fogo contra as vítimas no momento em que elas tentavam acessar caminhões com ajuda humanitária.
As Forças de Defesa de Israel chegaram a negar, em um primeiro momento, que tivessem disparado – e creditaram as mortes a pisoteamentos e brigas.
Depois, o porta-voz Daniel Hagari afirmou que tanques que faziam escolta deram “disparos de aviso”, mas seguiu negando que os soldados tivessem disparado contra a multidão.
Na nota divulgada nesta sexta, o Itamaraty cita que “mais de 100 pessoas foram mortas e mais de 750 feridas por tiros, pisoteio ou atropelamento”– evitando entrar na guerra de versões entre Israel e o governo palestino.
O título da nota, no entanto, é mais claro: “Ataque a tiros contra palestinos que aguardavam o recebimento de ajuda humanitária na Faixa de Gaza“.
“As aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza e as dificuldades para obtenção de alimentos no território”, diz o Brasil.
Em seguida, a nota do Itamaraty faz críticas duras à gestão do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. E conclama que a comunidade internacional ajude a impedir “novas atrocidades” em Gaza.
“[…] A inação da comunidade internacional diante desta tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional. Declarações cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana”, diz o texto.
“O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão.”
Em fevereiro, durante viagem à Etiópia, Lula disse: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus”.
A fala foi duramente criticada por Israel e abriu um confronto diplomático entre os dois países. Lula, apesar disso, não recuou. Em entrevista recente, negou que tenha comparado a situação atual ao Holocausto, mas disse que mantinha sua opinião sobre Netanyahu e a situação em Gaza.
“Fomos buscar comida e eles começaram a atirar”, disse um palestino que estava no local. “Fomos surpreendidos por tanques israelenses que abriram fogo”, afirmou outro. Veja os relatos no vídeo abaixo.
Segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, 112 pessoas morreram e 760 ficaram feridas.
Em um comunicado, as Forças Armadas de Israel afirmaram que as mortes ocorreram em decorrência da correria de uma multidão que cercou os comboio de ajuda humanitária.
“Nesta manhã, caminhões de ajuda humanitária entraram no norte de Gaza, os residentes cercaram os caminhões e saquearam os mantimentos entregues. Como resultado dos empurrões, correria e atropelamentos, dezenas de habitantes de Gaza foram mortos e feridos”, diz o texto.
O episódio ocorreu no dia em que o número de mortos na Faixa de Gaza desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em 7 de outubro, passou da marca de 30 mil pessoas, de acordo com balanço do governo local, controlado pelo grupo terrorista. O levantamento não separa a morte de civis e de integrantes do Hamas e de outros grupos terroristas.
Na nota do Itamaraty, o Brasil “reitera a absoluta urgência de um cessar-fogo e do efetivo ingresso em Gaza de ajuda humanitária em quantidades adequadas, bem como a libertação de todos os reféns“.
O governo também cita a obrigatoriedade de que Israel implemente as medidas cautelares definidas pela Corte Internacional de Justiça em janeiro – “que demandam que Israel tome todas as medidas ao seu alcance para impedir a prática de todos os atos considerados como genocídio, de acordo com o Artigo II da Convenção para a Prevenção e a Repressão e Punição do Crime de Genocídio.”
Na última semana, pela terceira vez, os Estados Unidos – principais aliados de Israel no Ocidente – vetaram uma resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas por um cessar-fogo humanitário imediato no conflito.
Desde então, os EUA propuseram um projeto de resolução rival pedindo um cessar-fogo temporário na guerra entre Israel e Hamas e se opondo a uma grande ofensiva terrestre de Israel em Rafah, de acordo com o texto visto pela Reuters. A proposta ainda não foi submetida a votação.
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