Caldinho de camarão é prato tradicional da cidade  — Foto: Zé Mario/TV Sergipe

Os casos de alergia e intolerância a alimentos estão aumentando no mundo, de acordo com associações médicas e especialistas ouvidos pelo g1. Faltam pesquisas quantitativas que traduzam esse aumento em números percentuais, mas os médicos são unânimes em afirmar que mudanças em nosso estilo de vida e no tipo de alimentação estão contribuindo para o fenômeno.

“O aumento da alergia alimentar é mais recente, tendo iniciado cerca de 20 anos atrás. (…) Em resumo, doenças alérgicas se desenvolveram em grande parte como resultado de mudanças no estilo de vida, levando a população a se tornar sensibilizada a proteínas estranhas irrelevantes”, avalia a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).

Os médicos usam um termo técnico para tentar explicar o que vivemos: um “fenômeno epigenético”.

  • Quando falam em “fenômeno epigenético“, os médicos se referem a mudanças que ocorrem no material genético de um organismo que não estão diretamente relacionadas a alterações em sua sequência de DNA. Em vez disso, essas mudanças podem ocorrer através de modificações químicas no DNA ou em suas proteínas associadas, que podem afetar a expressão de certos genes.
  • Essas mudanças podem ser influenciadas por fatores ambientais, como a dieta, o estresse e a exposição a toxinas. O termo “epigenético” se refere ao fato de que essas mudanças podem ser herdadas pelas gerações seguintes, sem que haja uma mudança na sequência de DNA propriamente dita.
  • No caso das alergias e intolerâncias alimentares, as mudanças epigenéticas podem afetar a forma como o sistema imunológico responde aos alimentos, tornando-o mais propenso a reagir de forma alérgica ou intolerante. Essas mudanças podem ocorrer ao longo da vida de uma pessoa, mas também podem ser transmitidas para seus descendentes.

Em resumo:

Vivemos uma questão multifatorial: um maior consumo de alimentos ultraprocessados, mudanças ambientais (poluição, maior urbanização), nos hábitos alimentares e no estilo de vida afetam a forma como nosso corpo reage. Tudo isso pode estar contribuindo para um aumento no número de pessoas alérgicas a alimentos no Brasil e no mundo.

Segundo José Luiz de Magalhães Rios, alergista e membro do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), estima-se que quase 10% da população infantil no mundo tenha algum tipo de alergia a algum alimento.

Uma pesquisa recente da Academia Europeia de Alergia, onde o participante respondia uma pergunta sobre alergia alimentar, encontrou números próximos a 17% (no Brasil, não há um dado preciso sobre quantas pessoas são afetadas).

O médico explica que as questões citadas no começo do texto (ultraprocessados, mudanças na atmosfera, hábitos alimentares e de vida) podem interferir com o nosso DNA e fazer com que genes que não se manifestavam (estavam reprimidos) se liberem e comecem a provocar alterações.

“Os alimentos com muita química, ultraprocessados, podem contribuir para uma inflamação da mucosa intestinal. Essa inflamação pode fazer com que proteínas de alimentos sejam absorvidas de uma forma diferente pelo intestino, tem um contato diferente com o sistema imune.

A resposta normal, de tolerância imunológica ao alimento se distorce e o corpo passa a não reconhecer aquele alimento, fazendo uma reação alérgica a ele, exemplifica o alergista.

Ana Paula Moschione Castro, alergista e imunologista pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora da clínica Croce, cita outros fatores que também podem estar contribuindo para o aumento nesses últimos 20 anos: aumento dos partos cesarianas, tempo de redução do aleitamento materno e maior uso de antibióticos.

O que é a alergia alimentar?

 

É uma resposta exagerada do sistema de defesa do corpo a alguma substância. O sistema imunológico confunde um alimento específico com invasores e produz anticorpos contra ele. Essa resposta do organismo pode desencadear uma série de reações.

Os alimentos que mais causam alergia alimentar:

  • leite
  • ovo
  • trigo
  • soja
  • amendoim
  • castanhas
  • peixes
  • (o gergelim está entrando na lista de alguns países)

 

No caso do camarão, causa da morte do influenciador digital Brendo Yan da Silva, Rios diz que é um tipo de alergia que começa na adolescência ou idade adulta. Muitas pessoas comem o alimento até uma certa idade e, em um belo dia, se tornam alérgicas por causa desses fatores ambientais e alimentares.

O que causa uma alergia alimentar?

O intestino tem um mecanismo imunológico complexo que desenvolve tolerância aos alimentos ingeridos. Entre os quatro e sete meses de vida a tolerância imunológica é maior – quando os alimentos devem ser apresentados à criança.

“Mesmo assim, de um modo geral, os alimentos absorvidos pelo intestino vão sendo acompanhados, as proteínas estranhas que vem dos alimentos, que não são proteínas do nosso corpo, elas penetram e o corpo desenvolve uma resposta de tolerância. Quando você quebra essa tolerância, você desenvolve alergia àquele alimento. Aquela proteína passa a ser reconhecida como uma proteína estranha”, explica o membro da ASBAI.

Os riscos de consumir um alimento se você for alérgico

“O risco é imenso. Você pode deflagrar esse processo muito rapidamente. Você pode ter uma reação que pode ser fatal mesmo com pequenas quantidades do alimento”, alerta Ana Paula Moschione Castro.

Eles são enormes e podem levar à morte. A alergia pode levar a reações leves, moderadas, mas pode ter uma reação muito grave, fazer o choque anafilático e vir a morrer.

  • edema de glote (inchaço repentino na garganta, impedindo a passagem de ar para os pulmões);
  • choque anafilático (reação alérgica grave que surge em poucos segundos, causando sintomas como coceira, inchaço da boca, língua e rosto);
  • vômitos;
  • diarreias;
  • convulsões; e
  • morte.

 

“É muito importante o indivíduo que é alérgico saber a qual alimento ele é alérgico e evitar. Não só de forma visual, mas forma escondida também. É preciso prestar atenção em todos os alimentos que ele vai consumir. Desde a hora da compra, lendo os rótulos, como quando é um alimento já preparado, num restaurante. Ele tem que se certificar de que o alimento ao qual ele é alérgico não faz parte do cardápio que ele está pedindo para ingerir”, alerta José Luiz de Magalhães Rios.

Diagnóstico, tratamento e prevenção

A primeira etapa do diagnóstico é a chamada anamnese – uma conversa do especialista com o paciente, onde ele relata o que aconteceu (qual foi a reação, tipo de alimento ingerido, etc). Esse é o ponto inicial. Com a suspeita do possível alimento, o paciente passa por testes alérgicos e exames de sangue específicos que permitem investigar o agente causador da alergia.

Sobre tratamento, o único comprovadamente eficaz para alergia alimentar é evitar o alimento desencadeador.

E há prevenção? “Não existem estratégias bem definidas para evitar a alergia alimentar, mas sabemos que o aleitamento materno, parto normal, alimentação saudável, tudo isso pode minimizar o risco populacionalmente. Uma vez que você é alérgico, você precisa evitar o alimento e portar o plano de emergência”, ressalta Ana Paula Moschione Castro.

Sobre cura, a alergista explica que o paciente pode atingir tolerância espontânea com leite, ovo, trigo e soja. No entanto, com alimentos como camarão, amendoim e castanhas acaba sendo mais raro. A tolerância pode chegar apenas a 20% dos pacientes.

Fonte: G1RN

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