HUMOR E MORTE –
Onde termina humor começa morte. São três letras coincidentes. Raramente eles estão juntos, porque a morte é sisuda e o humor, alegre.
Meu Mestre Câmara Cascudo sempre lançava mão de eufemismos para lembrar a indesejada: quando a noite chegar… Um dia, pediu-me para fazer a roupa da viagem. Afirmou que não queria a veste talar vermelha, preferia a de Professor Emérito (da UFRN): “que tem arminho e rima com velhice e com carinho”. Assim, saiu da sede da Academia Norte-rio-grandense de Letras para a sua viagem definitiva.
Por algumas vezes, ele despertou o meu interesse pelas últimas palavras de uma celebridade, como pelos epitáfios curiosos e engraçados. Contou dois deles. Em um cemitério do Alentejo está sobre a lápide: “Aqui jaz Maria Francisca / meu bem / para o seu descanso eterno / e meu também”. O outro de um Lord inglês: “Desculpe não poder recebê-lo de pé”.
Com um sorriso, meu pai tomava conhecimento das coisas. E aconselhava com frase que gosto de repetir: Conserve seu sorriso que as dificuldades são passageiras. O máximo que pode durar uma dificuldade é até a sua morte e esta é inevitável.
O inteligente e culto professor Alvamar Furtado de Mendonça amava o jazz. Sobre esse tema, fez palestras e escreveu bastante. Com bom humor, acolheu o que seria seu sintético epitáfio, sugerido por um aluno: “Aqui jazz”.
Escritos sobre túmulos, os epitáfios têm as mais variadas origens e destinações. Para homenagear o defunto, registrar seus dotes pessoais, as saudades da família, substituir a voz do morto, uma prece, um verso, o inexplicado, revelação de crença, um texto enigmático, a provocação de riso ou sorriso, uma esperança.
O poeta Vinícius de Morais talvez tenha feito o primeiro epitáfio cósmico: “Aqui jazz o sol / que criou a aurora / e deu luz ao dia / e apascentou a tarde”. Conclui dizendo que o nosso astro morreu no mar.
Stalin, o ditador soviético, era georgiano, mas queria ser russo de todo jeito. Adotou até o nome russo Stalin que quer dizer aço. Era grosseiro, inflexível, sem piedade. Dessa maneira, tratou a educação do filho. Um dia, Yakov tentou matar-se com um tiro no peito. O ditador vai visitá-lo no hospital e perguntou: “Nem sequer isso você sabe fazer bem feito?”. Talvez, por histórias dessa natureza, o humorista espanhol Álvaro Pombo escreveu: “Creio que o sentimento do humor é de direita. A esquerda não tem bom humor e nem comicidade”.
Poucas pessoas, na existência humana, poderiam comemorar tantos êxitos quanto Frank Sinatra. Fez tudo que desejou na vida. Foi “A Voz”, o mais famoso cantor do século XX. Como ator, participou de mais de meia centena de filmes e recebeu o “Oscar” por um dos seus papéis. Montou empresas, inclusive uma gravadora para os seus próprios álbuns. Vendeu mais de 150 milhões de discos. Ganhou onze grammy awards. Considerado irresistível, teve as mulheres mais bonitas e desejadas do mundo, casou com Ava Garden e Mia Farrow. Teve, entre as amantes, Marlene Dietrich, Marilyn Monroe. Ainda achou pouco. No seu túmulo está: “The Best Is Yet Come”, para dizer que o melhor ainda está por vir.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN