IDADISMO –

Pouca gente está familiarizada com o termo que intitula esta matéria. Porém, ao lado do racismo e do sexismo é uma das três maiores formas de discriminação do mundo moderno: envelhecer sofrendo preconceito social. Talvez não percebamos, mas a segregação do idoso aumenta na proporção que avança a expectativa de vida de homens e de mulheres.

Numa sociedade que privilegia a juventude, a beleza, a velocidade e a tecnologia, pessoas com 60, 70, 80 ou 90 anos de idade tendem a ser marginalizadas em razão das limitações de suas aptidões físicas, mentais, sentimentais e até sexuais.

Não tratamos aqui de idosos acometidos de males que os incapacitam para as mínimas tarefas corriqueiras ou atividades que requeiram exercícios de raciocínio. Prendemo-nos àqueles habilitados, mental e corporalmente, excluídos por atingirem a idade limite tida como tabu.

O idadismo se manifesta nos meios de comunicação, na publicidade e na sociedade como um todo. Somos discriminados porque não mais produzimos, e daí sermos taxados de pesos mortos – como se aposentadoria fosse uma mácula e não um direito adquirido com o trabalho; excluídos pela dificuldade de adaptação às inovações tecnológicas; e, até por insuficiências físicas como o embaraço de locomoção.

A ideia que o idoso passa para muitos é a de um ser alienado no tempo e no espaço, de não possuir opinião ou vontade próprias, de um ente desprovido de sexualidade e de emoções. De uma pessoa que não deve fazer o que lhe der vontade quando bem lhe aprouver, como qualquer indivíduo dotado da liberdade de ir e vir. Que não pode sorrir ou fazer graça para evitar o ridículo. Salvaguarda da tristeza e da sisudez.

Entretanto, a pior experiência resulta da advinda do âmbito familiar, onde as manifestações sutis de idadismo são as mais dolorosas. Quando nos acham inábeis e de difícil integração com os demais; quando os entes queridos tomam decisões por nós sem nos consultar; quando estabelecem nos relacionarmos apenas com pessoas de nossas idades; e, quando determinam que nada mais temos a ensinar ou a aprender. Por fim, quando nos induzem a viver num mundo isolado alheio a tudo e a todos.

É verdade que a prática do idadismo não é generalizada. Existem famílias que não admitem entregar os seus idosos aos cuidados de asilos ou instituições correlatas, mantendo-os no seio da família até o último suspiro – com maior tolerância se o idoso for o provedor da família, mas, sem a garantia de trato igual na senilidade.

Esse tipo de discriminação é tão marcante que, às vezes, atinge os próprios descriminados transformando-os em adeptos do idadismo, ou seja, preconceituosos consigo mesmos, abrindo espaço para decisões extremas como procurar o isolamento espontâneo e completo ou desejar a morte.

Por se tratar de problema penoso para os familiares, a solução é postergada, na maioria dos casos, até o limite do suportável. No meu entendimento, o melhor caminho para o impasse é a teoria de São Francisco de Assis do “é dando que se recebe”. Se durante o convívio familiar a criatura plantou a harmonia, incentivou a tolerância, distribuiu bem-querença e amou para se fazer amado, certamente na velhice fará a boa colheita de frutos benevolentes recheados de afeição. Caso contrário…

Receio o aprisionamento decorrente da decrepitude, temo o transtorno de ser um peso morto para a família, minha religião impede a eutanásia, resta-me, por certo, aceitar o veredicto do qual me fiz merecedor. Que conste!

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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