A conversa de hoje corre atrás de uma saída para o “imblóglio” que estamos todos emaranhados. Uma tentativa de encontrar um caminho iluminado para o conjunto de nossa sociedade.
Assuntando cá no meu canto, descobri que o patropi é o país mais parecido com os Estados Unidos.
Embora não se reconheça esse fato em nenhum dos dois países. São de tamanho quase idêntico, fundados na mesma base, de povoamento europeu e de escravidão africana.
Cada um é o mais desigual de seu tipo: os EUA, dos países ricos; o Brasil, dos países emergentes. Paradoxalmente, nesses dois países muito desiguais, a maior parte das pessoas comuns (não falo dos governos) continua a acreditar que, apesar de tudo, ainda é possível construir um mundo melhor.
Essa orientação esperançosa, peregrina e aventureira representa o vínculo mais importante entre as duas nações, feitas, cada uma, de muitas nações.
No bojo da crise financeira internacional, há tudo para que se acelere tanto no Brasil como nos EUA o que já se prenunciava antes da crise: a busca de um conjunto de experimentos na maneira de organizar nossas sociedades que amplie, em proveito dos homens e das mulheres comuns, as oportunidades econômicas e educativas.
E que dê braços, asas e olhos à energia humana, frustrada e dispersa, que fervilha em nossos países.
Em vez de pedir ajuda, dada de cima para baixo, proponhamos construir juntos iniciativas exemplares, que têm tudo para contar com a simpatia e com a participação de muitos países latino-americanos.
Entre as áreas mais propícias, três merecem atenção especial.
1. Desenvolver as alternativas de energia renovável. Em vez de ficarmos vidrados nos interesses imediatos que nos dividem, é melhor construir as possibilidades futuras que podem nos unir. Trabalhar juntos para transformar os agrocombustíveis nas commodities que ainda não são. E para obter os avanços científicos e técnicos que permitirão mobilizar o potencial energético da biomassa – até que se possa mobilizar melhor o potencial das energias solar e eólica, diretamente.
2. Soerguer milhões de empreendimentos emergentes e pôr as finanças a serviço da produção. A crise financeira de agora impõe-nos tarefa mais importante do que a de regular os mercados financeiros: a de aproveitar melhor, mais objetivamente, o potencial produtivo do dinheiro reunido nos bancos e nas Bolsas.
O cumprimento dessa tarefa começa no esforço de dar às pequenas e médias empresas condições para ganhar acesso ao capital e para qualificar-se em tecnologias, conhecimentos e boas práticas.
3. Tomar as medidas necessárias para garantir, em todo o ensino público, um padrão mínimo e universal. O avanço de nossas sociedades passa pela efetivação de um princípio singelo: cuidar para que a qualidade da educação que uma criança recebe não dependa do acaso ou do lugar onde ela haja nascido.
Duas iniciativas, a se desdobrarem no Brasil e em todo o nosso hemisfério, podem abrir o caminho.
A primeira é desenhar uma escola média que reúna e que renove o ensino geral e o ensino técnico, com fronteira aberta entre os dois. Ensino geral focado em análise verbal e numérica, não em informação enciclopédica. Ensino técnico dedicado a capacitações práticas flexíveis, não ao domínio de ofícios rígidos.
A segunda iniciativa é providenciar a gestão local das escolas pelos Estados e municípios com padrões nacionais de investimento e de qualidade. Não basta avaliar nacionalmente as escolas e redistribuir recursos de lugares mais ricos para lugares mais pobres. É preciso também recuperar redes de escolas locais que tenham caído abaixo do patamar mínimo aceitável de qualidade.
Parte da solução é associar os três níveis da Federação em órgãos conjuntos, vocacionados para apoiar, socorrer e reparar as escolas ineficientes. É o rumo da federalização de todas as escolas brasileiras, associada a uma Lei de Responsabilidade Educacional. “É o caminho, a verdade e a vida”.
O que unifica e orienta todas essas propostas é a disposição de reorganizar a economia de mercado em proveito da maioria trabalhadora. Hora de reconstruí-la, não apenas de contrabalançar suas desigualdades por meio de transferências sociais. Chega de bolsas e cotas!
Alvissareiramente, longe do falso conflito entre “nós” e “eles” pregado pelo PT; há no Brasil um grande, muito grande, conjunto de pessoas (do bem) dispostas a se mobilizarem em torno de ideias generosas.
A hora é essa. É a hora das ideias – mais luz que calor – para que o patropi encontre rumo outra vez.
Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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