Simone Maria Rodrigues Soares
Penso que as duas únicas vantagens de ser idoso são ter direito a prioridade em filas de banco e o fato de ser tratado por senhor ou senhora. Mas, analisando bem, nem sempre as filas de idosos são as mais rápidas, visto que muitas vezes são muitos para um único caixa ou terminal de atendimento. Mesmo quando tem pouca gente na fila, os mais idosos são naturalmente mais lentos. Já me acostumei a ir para a fila normal (será que a outra é anormal?), pois nela tem-se o “privilégio” de vários caixas, o que é um fator a mais para que a fila ande mais rapidamente. Mas aos mais afoitos digo que insistam nos seus direitos, pois é o que nos faculta o Estatuto (do Idoso).
Por muito tempo recusei o tratamento de senhora. Queria passar por mais nova ou liberar o interlocutor de tal tratamento, pois achava que nos impunha uma espécie de barreira. Fazia questão de me tratarem por você, muito mais informal e simpático. Com o passar do tempo, porém, vamo-nos acostumando e já não reclamamos mais.
Mas até hoje tomo um susto quando me vejo na chamada terceira idade. E que dizem que é a melhor. Melhor em que, meu amigo? Você já acorda de manhã com, no mínimo, dor na coluna. Aí se levanta e encara o espelho: aquela é você, mesmo? Aquele cabelo que pintou na semana passada já está ficando com a “coroa” branca… Arrrrrrrrrr, que raiva! Depois do banho que você é forçado a tomar para recolocar os ossos no lugar, vai para a mesa do café. Café não pode, é ruim para quem tem gastrite e hérnia de hiato (meu caso…). Pãozinho francês não pode: engorda! Manteiga no pão? Nem pensar! Aí você come sua bandinha de mamão papaya com aveia, chia (bom para regular o intestino…) ou linhaça. Mel não pode: aumenta a glicose. Vem uma fatia de pão integral com queijo branco, leite tem que ser sem lactose (integral, que é o mais saboroso, terminantemente proibido). E dê graças a Deus!
Nesta semana fui tentar instalar um telefone da operadora a cabo e ri de mim mesma: tive que me sentar no chão, pois precisava passar o fio pelo buraco aberto no móvel, feito especialmente para os fios ficarem escondidos, e vi que estou mesmo idosa: quase não me levanto. Lembrei do tempo em que fazia yoga. Nunca tive muita elasticidade, mas cheguei a conquistar uma boa liberdade de movimentos. Agora o Pilates me socorre ou até mesmo uma hidroterapia.
Quando eu era jovem não entendia por que ninguém queria ser velho. Hoje começo a entender…
Simone Maria Rodrigues Soares – Escritora
Querida, sabe o quanto gosto da sua sabedoria, da sua lucidez. Também me pego pensando o que será das pessoas, hoje mais jovens, num futuro de impaciências e indelicadezas para com os idosos – eles amanhã… Será que suas memórias lhes cobrarão as atitudes de hoje? … Enfim, também confesso que, às vezes, tenho medo de envelhecer em meio a gente tão insensível, tão mesquinha… beijos!
Simone, tem um amigo meu daqui de Mossoró chamado Mário Gérson (que você conheceu na casa de seu pai) que, uma vez indo comigo para Fortaleza, ao ser inquirido por uma reflexão minha foi e voltou calado meditando a resposta. Na chegada, ao descer do carro simplesmente me disse: o homem inventa coisas para fugir da morte. Acho que, com a idade, inventamos coisas – dentro das nossas possibilidades, para que tenhamos a mobilidade e os prazeres nos períodos que vivemos. Mas, realmente, com a idade, os problemas aparecem. Uma boa crônica, com humor e um pouco de ironia. Também, o dom tem a quem puxar. Abraços, Raimundo Antonio