Ana Luiza Rabelo
Nós somos criaturas perfeitas. Nenhum engenheiro, por melhor que seja, foi capaz de fazer sistemas tão compactos e eficientes quanto os que possuímos. Infelizmente, não sabemos dar valor à nossa perfeição, porque só conseguimos olhar para o que é evidente. O físico sempre sobrepõe o imaterial, e o conteúdo perde seu valor quando deixamos de observá-lo.
Nosso caráter é a “cereja do sorvete” e não sabemos poli-lo da forma necessária. Sempre se diz que o primeiro passo para a mudança é reconhecer a falha. Muitos de nós reconhecem seus defeitos e pronto, ponto final. Reconhecer os próprios defeitos e não fazer nada para mudá-los é o mesmo que ficar em recuperação na escola e não estudar para passar de ano.
Todos somos capazes de evoluir, mas parece que temos vergonha de sermos pessoas boas, honestas ou sinceras. E, por isto, alimentamos dia a dia o hábito de nos escondermos da nossa essência. Culpamos os mais próximos por nossas falhas e também por nossos acertos. Se somos corretos ou não, se somos verdadeiros ou não, se somos justos ou não, nunca é fruto do que realmente somos. Todas as vezes, conseguimos “empurrar” a responsabilidade ou os créditos. Com tanto pudor em professar nosso caráter, nos tornamos incapazes de exercer o maior cargo criado pela humanidade: o de professor. Devolver as lições que a vida nos dá deve ser motivo de alegria e, muitas vezes, é motivo de constrangimento.
Todos os dias podemos ser melhores do que fomos no dia anterior, mas o esforço que gastamos tentando esconder nossas boas notas é tão grande que preferimos nos acomodar e “ficar na média”.
Na ânsia em não obter destaque, em ficar na sombra ou em permanecer igual à maioria, nós nos autodepreciamos exacerbadamente e nem percebemos que ser muito ruim ou muito indigno é uma maneira de sobressair aos demais. O excesso de inferioridade é tão visto como soberba como o excesso de superioridade.
A caminhada precisa ser vista como um todo, se fracionada perderá seu valor. Um passo não representa nada mais que um esforço vão sem os passos anteriores e sem os passos posteriores. O que todos precisamos é aprender a dar o segundo passo, pois reconhecer o erro é importante, porém se torna inútil se não formos capazes de mudar, de aprender e de ensinar.
Ana Luiza Rabelo – Escritora, advogada (rabelospencer@ymail.com)
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