INDECISÃO –
“Faço um pedido: escreva sobre ‘INDECISÃO’”. Esse, veio de uma leitora assídua. E continua: “Por que relutamos e protelamos tanto quando precisamos decidir algo na vida?”.
Tomar decisões sempre é uma tarefa difícil. Para tal precisamos identificar os cenários que, montados pelo desassossego, nos afetam a ponto de nos colocar em intensa apreensão. Assim, é de bom alvitre escalonarmos a ordem em que, as tais decisões, são mais significativas: material, espiritual, profissional, relacional, familiar, amorosa… Cada um desses cenários principais especificam características próprias, como também afetam, indiretamente, os secundários.
É preciso que prestemos atenção quais os atos, dentro de cada cenário, estão afetando o nosso emocional, para poder claramente traçar um roteiro de observação mais detalhada, a fim de que tenhamos a convicção de que todos os esforços, os diálogos, as atitudes, o cumprimento das promessas para o reerguer do entendimento sejam exauridos.
No ‘material’, normalmente se sobressai o querer ter, o não querer possuir ou apenas administrar o que tem. Esse é um conflito mais simples, pois o literal “adiamento” pode mudar os ares. “Eu preciso disso mesmo?”.
No ‘espiritual’, surge a dúvida da fé. Somos, na maioria das vezes, inquietos em querer que as coisas aconteçam de forma imediata e assim retiramos das mãos de Deus aquela súplica que acabamos de entregá-Lo.
No ‘profissional’, o dilema é sobre “mudanças”. Quando se apresenta a oportunidade que tanto almejávamos, faz vir à tona o medo do experimentar da nova realidade, do recomeço, do modificar o estilo de vida, dos riscos e até dos benefícios. “Devo mesmo mudar?”.
No ‘relacionamento’, a contenda é sobre a lealdade e a confiança das amizades construídas ou desconstruídas, em muitos dos casos, pela palavra proferida na hora certa, como apoio, orientação, uso da verdade com carinho ou, no momento inadequado, humilhando, desconsiderando o sentimento do outro, usando das incertezas e até, maliciosamente, se arrogando como o detentor da ‘verdade’.
No ‘familiar, a lide se apresenta pelos interesses conflituosos entre ser mais amado ou ser menos querido, ter mais aceitação ou presumir que não desfruta igualmente das oportunidades. É o embate mais delicado, pois qualquer ação pró ou contra, pode afetar significativamente o seio familiar com mágoas que se estenderão por tempos, até que a maturidade reestruture novamente o entendimento e gere a harmonia que alimenta seus entes.
No ‘amoroso’, a incompatibilidade começa a se mostrar quando o “nós” se desdobra em o “EU” e o “você”. E isso fica bem evidente quando ambos passam a concorrer entre si. O antes foi se desgastando pelo comodismo de deixar de alimentar o sentimento de cumplicidade, de confiança, de partilhamento, do cuidar um do outro, do perceber e de incentivar o dom que é peculiar a cada um. As tarefas, as cobranças, o apontamento só dos ‘defeitos’, a falta do dar-se sem perder a sua identidade, vão minando o solo fértil em que a semente do entendimento, do amor, da parceria foi plantada e, até então, vinha sendo regada. Tudo isso fica martelando o juízo de ambos. Não faltará alguém que não diga: “Você é muito besta! Se fosse eu já tinha acabado”. E aí entra um chavão que sopra a brasa: “A fila anda!”. Como se a construção do amor fosse algo apenas material, inconsequente e de fácil troca. Nesse cenário cabe todo o esforço possível de um e de outro, verdadeiramente, em conversar abertamente, sem ofensas pessoais, sem egoísmos, sem indiferenças, em busca de uma retomada.
Recomendo, antes de tudo, que cada um faça uma lista com todos os pontos de conflitos do casal e, a cada dia, leia e releia fazendo uma indagação corajosa e despojada de ressentimentos: “O quanto eu tenho contribuído para esse desentimento?”. Provavelmente alguma anotação será riscada, convergindo para os pontos mais significativos e que realmente precisam de uma tomada de decisão. É o momento certo de compreender o que está nas entrelinhas da discórdia e perguntar a si: “Devo perder o amor antes de lutar por ele primeiro?”.
Sem esgotar o assunto:
Procure em qualquer situação visualizar cenários positivos. O equilíbrio entre pensar o suficiente e o agir assertivamente se apresenta como saudável emocionalmente.
Uma maneira de deixar de ser indeciso é buscar desprender-se dos pensamentos exagerados sobre algo.
Aja com cautela, mas procure, em qualquer dos cenários, a melhor escolha para você.
Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])