INESQUECÍVEIS ESSÊNCIAS JUNINAS –

Recentemente em viagem realizada ao Santuário de Aparecida, Padroeira do Brasil, em São Paulo, conheci cidadão portador de anosmia, doença rara que consiste na pessoa não conseguir sentir cheiros, e nele pude constatar o efeito devastador de tal ocorrência, pois o mesmo perdera o ânimo de comer, sorrir e, até mesmo, trabalhar.

Horas depois relembrando o sofrimento daquela criatura, concluí que caracteristicamente, a percepção é um processo que influi no comportamento do ser humano, no que diz respeito a sua melhor adaptação ao ambiente. Dessa forma, surge a importância do desenvolvimento das áreas olfativas, que viabilizam a possibilidade de gerar emoções, após o processamento de diferentes aromas.

Em minha vida, de todas as coisas que vivenciei, as que muito me valeram a pena e que sinto mais falta, são aquelas as quais nunca pude tocar, apesar de permanecerem bem firmes em minhas recordações.  Refiro-me aos episódios abstratos, que, mesmo estando ao alcance das mãos, não fazem parte do mundo material: O amor, a saudade, a alegria.

As memórias que incluem lembranças de cheiros, tem a tendência de serem intensas e emocionalmente mais fortes. Neste mister, a época dos festejos juninos, principalmente no nordeste, se apresenta para mim, como imbatível, incomparável.

A característica essência de fumaça no ar, advindo das inúmeras fogueiras espalhadas, até pelas ruas pavimentadas, me remete a um passado inesquecível, quando, ainda criança, brincava com pessoas queridas, muitas, que entre nós já não habitam.

O odor e o brilho da pólvora queimada trazem à tona lembranças dos festejos ocorridos na fazenda Angicos, lá em Caicó e também, no hotel Tavares Correia, em Garanhuns, para onde anualmente acorria com minha família, em busca de diversão.

O aroma das comidas típicas, como canjica, quentão, pé de moleque, pamonha, bolo de milho, além do próprio milho, cozido ou assado, são páginas de minha vida, escritas pelas quituteiras que fizeram história: minha avó Bazinha e Marlene minha mãe.

O perfume forte, usado pelos “matutos” integrantes das quadrilhas juninas, os rapazes e suas roupas de tecido quadriculado, as mocinhas em vestidos de chita, com maquiagem transbordante de pintinhas pretas ao redor dos olhos, divertindo-se a valer, ao som das bandas de pífanos, que tocavam, tanto o inigualável alavantu e anarriê quanto o inesquecível “capelinha de melão, é de São João. É de cravo, é de rosa, é de manjericão. São João está dormindo, não me ouve não. Acordai, acordai João.”

É junho. Novamente é São João, que bom lembrar do bálsamo da terra molhada pelo o sereno que teima em cair, os balões que eram as estrelas do interior, sempre subindo, iluminados pela luz do prateado luar, os sanfoneiros tocando, as donzelas sempre rezando, querendo um marido arranjar.

E aqui, na cidade grande, apurando meu olfato, aguçando reminiscências, busco, lá no passado, os sonhos que, materializados, me dão a certeza de que o festejo junino é o único momento em que luzes, fragrâncias, cores e sons, se confundem em uma só coisa!

 

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

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