Crianças são o que de melhor tem a humanidade. Ninguém ignora que Jesus anunciou que delas é o Reino dos Céus.
É a hora da formação pessoal e cultural, do indivíduo e do mundo que o cerca, tomada de consciência e formação do inconsciente, a verdadeira construção da identidade e do próprio ser.
As crianças ainda não têm o saber adulto para distinguir o certo do errado, mas se reconhecem na emoção, que é a verdadeira e maior substância da consciência. Nessa idade é que a criança aprende a conhecer e a reconhecer-se, buscando o significado das próprias ações nas ações dos outros. Através da fantasia, o chamado jogo simbólico, as crianças assumem o papel de adultos. Por exemplo, brincam de mãe e filha na tentativa de entender esse universo.
É verdade que menino tem pouca experiência, mas isso é também uma vantagem, porque, com pouca coisa, um menino pode sentir-se feliz. Ele não sabe ainda que crescer é assumir responsabilidades e a gravidade das decisões adultas. E tem ânsia de crescer.
No dia a dia, o infante aprendiz vai criando um sistema de valores, em dimensão emotiva. A soma desses valores formará o caráter do povo, de sua nação. Há necessidade de a criança sair do seu nato egocentrismo para sentir-se membro de um grupo. E talvez seja este um problema social: gente grande que não consegue sair da fase egocêntrica.
O jornalista e escritor Luís Lobo propôs, com a profundidade do seu talento, que o Brasil criasse uma escola de pais. Pai e mãe precisam se preparar para conviver com os filhos, para o exercício normal de sua função, a mais elevada que um ser humano pode exercitar.
Está na hora de disseminarmos, no país, ludotecas de caráter formativo, pedagógico, inventivo. Mas, é preciso ter presente que não pode ser educativo o que não é atraente. Tudo que de bom que se possa ensinar à criança, homem do futuro, deve ser atraente, agradável, no mínimo, palatável.
Muitas crianças não são nascidas do amor, mas do falso prazer e da irresponsabilidade. Para esses filhos, que têm pseudopais rigorosamente irresponsáveis, deverá haver a responsabilidade coletiva de todos nós. Como órfãos, de pai e mãe, não podem ser transformados em órfãos da humanidade. Os adultos não podem olhar as crianças, por sua dimensão física, de cima para baixo. Antes, devem ver na criança todo o seu potencial, o esplendor de uma vida nova, a portadora de uma energia criadora.
Não é apenas a mulher, que fez a gestação, mas também o homem que deve dar à vida do menor um sentido positivo. A criança deve aprender a ser socialmente útil e a buscar felicidade. Os vínculos sempre permanecem. Não é totalmente verdadeira a afirmação de G. K. Chesterton: “A mulher perde a criança quando dá à luz. Toda criação é separação”. A criança é expulsa pelo nascimento da confortável barriga da mãe, mas vai enfrentar um mundo, reconhecendo-o e ordenando-o, também sob o olhar dos mais velhos.
As crianças têm uma inocência com sabedoria das coisas novas, aprendizagem, olhar pela primeira vez, descoberta, fantasia, imaginação criativa, do contentar-se com pouco, despreocupação com o que não lhe é essencial. Todos carregamos, dentro de nós, a riqueza da criança que fomos. Relembro Vinicius de Moraes: “Infância pobre mas linda / tão linda que mesmo longe / continua em mim ainda…”
A inocente criança também ensina. Vamos aprender com elas para participar do seu melhor destino.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Professor, Poeta, Escritor, Presidente da Academia Norte-riograndense de Letras