Dalton Mello de Andrade
Hoje, amanheci sem inspiração. Não só hoje. Isso acontece de vez em quando. E deve ser assim com todo mundo. Escrever, atividade prazenteira, se torna difícil, mais das vezes, por faltar exatamente isso, inspiração.
Geralmente, “bolo” minhas crônicas na cama, antes de dormir, ou ao acordar, cedinho. Fico ruminando os assuntos e, de repente, surge alguma coisa interessante a ser comentada. Guardo na memória. Hoje, foi diferente. Essa ideia surgiu quando via meus emails, lia os jornais, e olhava matérias das mais variadas origens e conteúdos. Na internet, claro, sem a qual não sei como seria a vida hoje. A curiosidade, felizmente, ainda me persegue com insistência, o que é bom e eu gosto.
Lendo as notícias, fiquei imaginando. Que diabo, estou com vontade de escrever, mas, sobre o que? E aí, com os meus botões, pensei – por que não dizer o está acontecendo, ou seja, que estou com inspiração zero? E comecei.
E, depois de começar, me veio a idéia de comentar sobre a internet e computação. Lembrei-me de quando trabalhava no escritório de meu pai. Representante comercial, o centro do negócio se firmava em boas comunicações, entre nós e as empresas que representávamos, a quase totalidade no sul, a maior parte em São Paulo. Algumas no exterior, especialmente antes da guerra, mas também logo depois. Sobre mim veio cair a responsabilidade por essa comunicação, ao assumir atividades maiores na empresa.
Passava boa parte do dia agarrado à uma maquina de escrever, fazendo cartas e mais cartas para os representados, enviando pedidos dos nossos clientes, fazendo consultas – que quando eram urgentes eram feitas por telegramas e, se urgentíssimas, pela Western Telegraph. Para as cartas, usávamos o Correio, talvez mais eficiente então. Também não havia outra opção. De duas a três semanas, entre consulta e resposta. (Reconheçamos, hoje é mais rápido, quando não há uma greve e não se extravia. Não sei se isso acontece com vocês, mas minhas contas sempre chegam vencidas. Com raras e honrosas exceções).
E era uma trabalheira infindável. Colocar o papel, em duas vias, as vezes três, e com carbono, fazer a carta, em muitos casos, repetidas, quase idênticas, para outro endereço. Se houvesse um erro, a correção, apagando com borracha inclusive a copia, com cuidado para não sujar o papel, e as mãos. Isso se repetindo “n” vezes por dias. Um saco! Fico imaginando o tempo perdido que, naquele tempo, a gente não imaginava sequer.
Com o computador, a internet, emails, o escambau, o tempo que se perdia é usado hoje de forma racional e produtiva. Vida simplificada. E eu, que comecei sem inspiração, quase não paro. Como li em algum lugar, escrever é só encontrar o titulo. O resto vem no andar da carruagem.
Dalton Mello de Andrade – Ex secretario de Educação do RN
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