O Instituto Butantan firmou, na quarta-feira (12), um acordo de 101 milhões de dólares (cerca de R$ 389 milhões) com a farmacêutica Merck para desenvolver e comercializar uma vacina contra a dengue. Dessa verba, 26 milhões de dólares (R$ 100 milhões) serão pagos antecipadamente. A vacina contra a dengue do Butantan já está sendo testada em humanos, com 17 mil voluntários em todo o país.
Ainda não há previsão de quando a vacina será submetida para aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essa etapa é necessária para que ela seja disponibilizada à população. Hoje, já existe uma versão da vacina no mercado — produzida pela farmacêutica Sanofi — mas ela é contraindicada para quem já teve dengue e não é disponibilizada no SUS.
Segundo os termos do acordo, o Instituto Butantan deve ser o produtor e comercializador exclusivo dentro do Brasil, inclusive para o SUS. A parceria com a Merck prevê a troca de conhecimento científico entre as entidades — como, por exemplo, dados sobre o estudo clínico. A farmacêutica também está desenvolvendo a própria vacina — ainda na primeira etapa de estudos.
Para Rosana Richtmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas que não participou dos estudos de desenvolvimento da vacina, a nova versão desenvolvida pelo Butantan tem algumas vantagens em relação à que já existe:
- ela tem uma única dose, o que facilita a cobertura vacinal. A versão atual é dada em três doses, com seis meses entre cada uma delas;
- tem uma boa perspectiva de proteção, de cerca de 80%, para os quatro tipos de vírus; a de agora confere proteção de 66%. Isso acontece porque a nova versão estimula dois aspectos do sistema imunológico: a produção de anticorpos e, também, a dos linfócitos, um outro tipo de célula de defesa;
- está sendo testada em pessoas de 2 a 59 anos de idade, o que faz com que proteja uma parte maior da população. A atual é recomendada para pessoas dos 9 aos 45 anos;
- pode ser tomada por pessoas que já tiveram ou não a doença.
Não há perspectiva de que a vacina do Butantan seja comercializada fora do país ou que a da Merck seja vendida aqui no Brasil, afirma Leser, pois o acordo firmado prevê, por enquanto, somente a colaboração científica. A negociação para a parceria, afirma, levou dois anos.
Depois que a vacina da Merck estiver no mercado, o instituto brasileiro também deve receber royalties (espécie de pagamentos por “direitos autorais”) da empresa, por ter contribuído no desenvolvimento da vacina.
Além do financiamento da Merck, o Butantan também recebeu R$ 120 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para realizar as pesquisas. Em contrapartida, o Instituto deverá repassar ao Banco 5% das receitas obtidas com a vacina, inclusive com a sua comercialização fora do Brasil (por meio das royalties).
Ao todo, foram R$ 224 milhões investidos na pesquisa, com contribuições, além do BNDES, do Ministério da Saúde, da Fundação Butantan e da Fundação do Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Fonte: G1