As internações por síndrome aguda respiratória grave (SRAG) nos hospitais do Rio Grande do Norte nas 15 primeiras semanas de 2020 crescera 87,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Levantamento da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) aponta a ocorrência de 300 internações por doenças respiratórias diversas, incluindo a Covid-19 contra cerca de 160 internamentos no mesmo intervalo de tempo em 2019. A maior parte dessas internações (63,4%) ainda aguarda o resultado de exames ou testaram negativo para qualquer vírus.
O demógrafo Ricardo Ojima, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), analisou os dados da Fiocurz e afirmou que 36,6% das internações testaram positivo para algum vírus no Estado. “Esses números são importantes porque nos ajudam a entender a subnotificação dos casos e o impacto do coronavírus”, afirmou o pesquisador.
O SRAG é o estágio avançado de doenças gripais causadas por vírus, como a influenza e o novo coronavírus. A série histórica da Fiocruz, reunida no sistema Infogripe, mostra que as internações neste ano são superiores a todas registradas desde 2010 – quando a epidemia de H1N1 ainda era presente no Rio Grande do Norte. Nos últimos 10 anos, o número de internações por síndrome aguda respiratória não ultrapassaram 200 casos, com exceção de 2020.
A curva de internações atípica este ano se repete na região Nordeste. Ao longo de 2020, mais de 7 mil internações por síndrome aguda respiratória foram feitas nos nove estados nordestinos, contra 2,1 mil no ano passado. A região tem dois estados em situação crítica por COVID-19, Pernambuco e Ceará.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (SESAP-RN), 106 mortes foram registradas por síndrome aguda respiratória até ontem (28). Destas, 48 foram confirmadas para coronavírus, 8 permanecem em investigação e 50 foram descartadas por não detectarem a Covid-19 nos exames realizados.
No Rio Grande do Norte, na mesma semana epidemiológica do ano passado, foram confirmados sete óbitos por vírus respiratórios, dos quais seis foram confirmados por influenza e um positivo para vírus sindicial respiratório.”Dentre os óbitos por influenza observa-se que quatro estavam dentro dos grupos prioritários para a vacinação contra a influenza”, destaca o boletim.
Desde o início de abril deste ano, a SESAP-RN investiga todos os óbitos ocorridos em Natal a partir do dia 16 de março registrados como causas a síndrome aguda respiratória, pneumonia, insuficiência respiratória, infecção generalizada (septicemia) ou causa indeterminada. Foram expedidos 178 certidões de óbito com pelo menos uma dessas causas nos cartórios da capital, mostra o Portal da Transparência do Registro Civil. O número é inferior às certidões de óbito expedidas por essas mesmas causas entre 16 de março e 28 de abril do ano passado, que chegou a 380.
Para Ricardo Ojima, analisar as internações chega a dar uma dimensão melhor da pandemia do que os óbitos causados por síndrome aguda respiratória porque esses últimos sofrem uma demora para serem registrados pelas Secretarias de Saúde dos municípios. “Principalmente nesse momento de pandemia, onde existe uma demora para os registros dos dados devido ao alto volume de informações diárias que os hospitais precisam lidar”, afirmou.
Os cartórios brasileiros registraram um aumento de 1.012% nos números de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) desde o registro do primeiro óbito no Brasil pelo novo coronavírus, no dia 16 de março. Os dados estão no Portal da Transparência do Registro Civil, que reúne óbitos causados pelo Covid-19 e demais doenças respiratórias relacionadas ao vírus.
Pernambuco foi o estado que mais teve aumento no número de mortes por síndrome aguda respiratória, de 6.357% no período da pandemia. Em seguida, está o Amazonas, com 4.050%; Rio de Janeiro, com 2.500%; e o Ceará, com 1.666%. Todos esses estados possuem, em comum, uma situação crítica de coronavírus, inclusive com colapso em alguns hospitais.
Mesmo a plataforma reunindo todos os óbitos pelos cartórios de registro civil do país, os prazos legais para a realização do registro e para seu posterior envio à Central de Informações do Registro Civil podem fazer com que os números sejam ainda maiores, reconhece a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil). A afirmação vai na mesma direção da avaliação do professor Ricardo Ojima, da UFRN.
A lei federal 6.015, que regulamenta o envio, prevê um prazo para o registro de até 24 horas do falecimento, podendo ser expandido para até 15 dias em alguns casos, enquanto a norma do CNJ prevê que os cartórios devem enviar seus registros à Central Nacional em até oito dias após a morte.
As estatísticas apresentadas na ferramenta se baseiam nas Declarações de Óbito (DO) – documento preenchidos pelos médicos que constataram os falecimentos – registadas nos Cartórios do país relacionadas à Convid-19. “Os dados dos cartórios de registro civil se mostraram úteis para profissionais da área médica de diversos estados e municípios, assim como para toda a sociedade, podendo auxiliar governo na prevenção do avanço da doença entre a população”, explica o vice-presidente da Arpen, Luis Carlos Vendramin Júnior.
Números
Registro de óbitos por doenças respiratórias:
Natal (16.032019 a 28.04.2019)
SRAG: 3
Pneumonia: 197
Insuficiência Respiratória: 45
Septicemia (infecção generalizada): 124
Natal (16.03.2020 a 28.04.2020)
SRAG: 3
Pneumonia: 89
Insuficiência Respiratória:17
Septicemia (infecção generalizada):59
Fonte: Tribuna do Norte
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