INTROSPECÇÃO –
Luto – Estou de luto! Luto de mim mesma. Andei matando coisas que estavam a me matar. Ah, podem me acusar de assassina. Intrepidamente, sairei em minha defesa. Como uma boa advogada, provarei que agi em legítima defesa.
Com convicção, argumentarei diante dos magistrados das mais altas cortes que a única alternativa existente era aniquilar, sem piedade, o mal que assolava meus dias e minhas noites.
Com toda a verdade contida em minha alma, confessarei: Matei… Matei e não me arrependo:
Matei a agonia da impaciência;
Matei a ignorância que consumia minha razão;
Matei o mal pensar que sufocava meu coração;
Matei o ódio que germinava, dentro de mim, como erva daninha;
Matei o desalento que, de desatento, me entristecia no fim do dia.
Por fim, matei o desamor que, por vezes, insistia em me deixar desumana e arredia.
Hoje não visto preto. Os trajes que me servem são os das cores do arco-íris, para celebrar o discernimento revestido da viuvez estonteante, digno de uma “viúva alegre” absolvida.
Folhas orvalhadas –
Que as nossas almas dancem no ritmo
da leveza dos nossos sonhos;
Que as manhãs sejam
sempre jardins regados
pelas lágrimas das nossas saudades;
Que o verde das folhas orvalhadas
por nossas lembranças seja a força que nos une,
renovada pelo poder das águas
que brotam dos nossos olhos,
Enraizada pelas emoções
que nos fazem bem.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora