E novamente a Alimentação no domicílio, que engloba produtos in natura, puxou todo o grupo, com alta de 1,81% no mês. A cenoura (43,85%), a batata-inglesa (29,45%), o feijão-carioca (9,70%), o arroz (6,39%) e as frutas (5,07%) foram os destaques do IBGE.
Já a Alimentação fora do domicílio teve uma desaceleração contra dezembro, passando de 0,53% para 0,25% de alta. O lanche (0,32%) e a refeição (0,17%) tiveram altas menos intensas que no mês anterior (0,74% e 0,48%).
Veja o resultado dos grupos do IPCA:
- Alimentação e bebidas: 1,38%;
- Habitação: 0,25%;
- Artigos de residência: 0,22%;
- Vestuário: 0,14%;
- Transportes: -0,65%;
- Saúde e cuidados pessoais: 0,83%;
- Despesas pessoais: 0,82%;
- Educação: 0,33%;
- Comunicação: -0,08%.
Transportes seguem em queda
O grupo Transportes teve nova queda, de 0,65% em janeiro, e contribuiu com deflação para o índice geral (-0,14 p.p.). O subgrupo de combustíveis teve mais uma redução (-0,39%), com recuo do etanol (-1,55%), do óleo diesel (-1,00%) e da gasolina (-0,31%). Apenas o gás veicular subiu (5,86%).
Os preços de janeiro ainda não captam o aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para combustíveis que entrou em vigor neste mês. O aumento foi deliberado pelo Comitê Nacional de Secretários de Estado da Fazenda (Comsefaz) em outubro de 2023.
Os preços do óleo diesel, da gasolina e do gás de cozinha aumentaram em cerca de 12,5% desde o dia 1º. Antes da alta do ICMS, os combustíveis já haviam ficado mais caros por conta da retomada da tributação federal. Desde 1º de janeiro, houve reoneração de PIS/Cofins, cujas alíquotas estavam zeradas até 31 de dezembro de 2023.
Quem puxou de fato o resultado do grupo para baixo foram as passagens aéreas. O subitem tem colhido altos e baixos ao longo dos últimos meses, mas teve deflação em janeiro (-15,22%) e maior impacto negativo no índice do mês (-0,15 p.p.).
A base de comparação, porém, é alta, pois o subitem vem de uma sequência de quatro meses de alta intensa. As passagens fecharam o ano de 2023 com alta de 47,24%. Com a queda de janeiro, o acumulado em 12 meses agora é de 25,48%.
Serviços e monitorados desaceleram
A inflação de serviços, uma das métricas observadas pelo Banco Central do Brasil para a condução da taxa básica de juros, voltou a desacelerar com o apoio da redução dos preços das passagens aéreas.
Em 2023, o indicador havia fechado com alta de 6,22%. Neste mês, fechou a janela de 12 meses com alta de 5,62%, menor resultado desde outubro.
“A redução da taxa de desocupação e o aumento da massa salarial são fatores que podem contribuir para o consumo das famílias, mas ainda é preciso aguardar os dados para entender os efeitos no setor de serviços”, afirma André Almeida, gerente de pesquisa do IPCA no IBGE.
“Por ora, o índice de serviços tem sido bastante influenciado pelas passagens aéreas e questões sazonas. Neste mês, vemos a alta dos preços de hospegadem [por conta das férias escolares]”, prossegue.
Já os monitorados, itens cujos preços são definidos pelo setor público ou por contratos, também tiveram leve desaceleração na esteira da redução de preços de combustíveis e da tarifa de energia elétrica residencial.
Em 2013, o grupo fechou em alta acumulada de 9,12%. Em janeiro, desacelerou para 8,56% em 12 meses.
Resultado acima das expectativas
O mercado financeiro se surpreendeu com um resultado forte dos serviços subjacentes (0,76%), uma das principais métricas observadas pelo BC para a continuidade do ciclo de quedas da Selic. A taxa básica de juros passou por cinco quedas seguidas, mas o Comitê de Política Monetária (Copom) deixou clara a preocupação com a continuidade do processo de desinflação.
Para Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, os resultados ainda não revertem a tendência de queda da Selic, mas ligam alertas sobre a trajetória dos preços. Ainda que tenha ficado claro que itens voláteis influenciaram o resultado do núcleo, é preciso observar como será o trajeto dos próximos meses.
“Já esperávamos um número feio para esse fechamento, mas veio muito pior. É um sinal desconfortável, mas mantemos visão de que deve haver alguma descompressão nos próximos meses. Ainda tem um componente dos reajustes anuais nesse dado”, diz a especialista.
Já Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, indica que o banco esperava Alimentação no domicílio ainda mais alto, produtos de higiene mais baixos e Transportes mais baixos, o que causou diferenças da expectativa para o resultado final.
Mas a preocupação também ficou com serviços subjacentes, algo que vinha se desenhando desde os resultados do IPCA-15 do mês.
“Ainda é cedo para falar de reversão da desaceleração de serviços. Mas, daqui para a frente, além do índice cheio em si, esse é o aspecto que todos vão acompanhar para entender o impacto da atividade econômica na inflação, em especial do mercado de trabalho”, diz a economista.
INPC tem alta de 0,57% em janeiro
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) — que é usado como referência para reajustes do salário mínimo, pois calcula a inflação para famílias com renda mais baixa — teve alta de 0,57% em janeiro. Em dezembro, houve alta de 0,55%.
Como os alimentos têm peso maior no INPC — e as passagens aéreas, menor — o resultado do mês veio maior que o IPCA.
Assim, o INPC teve leve aceleração no acumulado em 12 meses, com alta de 3,82%. No mês anterior, o índice havia acumulado 3,71%.
“Os produtos alimentícios passaram de 1,20% de variação em dezembro para 1,51% em janeiro. A variação dos não alimentícios foi menor: 0,27% em janeiro frente à alta de 0,35% no mês anterior”, destaca o IBGE.