Ao argumentar a decisão, o júri disse ser impossível “não ser conquistado pela protagonista e sua comunidade e, da mesma maneira, era impossível esquecer o auge glorioso e poderoso deste filme”. “É uma prova de que a vida pode não nos proporcionar milagres, mas podemos superar todos os obstáculos se seguirmos nossa paixão”, acrescentou.
Segundo Caru Alves de Souza, “Meu nome é Bagdá” é um filme “sobre solidariedade entre mulheres e sobre as dificuldades que elas enfrentam no dia a dia”.
Neste sábado, o país também levou um prêmio, mas com uma coprodução, “Chico ventana también quisiera tener un submarino”, do uruguaio Alex Piperno, premiada pelo júri independente.
O primeiro longa-metragem de Piperno é uma história com um toque de realismo mágico, que conecta mundos e pessoas transgredindo as leis do tempo e do espaço. O filme estreou na seção Fórum da Berlinale e levou o prêmio do júri dos leitores do jornal “Tagesspiegel”.
Coproduzido entre Uruguai, Argentina, Brasil, Holanda e Filipinas, ele conta a história de um membro da tripulação de um cruzeiro turístico na Patagônia, que descobre um portal mágico ligando o navio ao apartamento de uma mulher em Montevidéu, capital uruguaia.
Ao mesmo tempo, um grupo de homens descobre uma cabana de concreto perto de sua pequena vila nas Filipinas, o que começa a preocupar alguns dos moradores. O filme entrelaça essas duas histórias num labirinto cinematográfico e contemplativo, com um final que revela o quebra-cabeça.
“Em imagens nítidas e bonitas, o filme de Alex Piperno funde realidade e ficção de uma maneira divertida. Nas diversas paredes e fronteiras do nosso mundo, ele encontra portas e passagens meio sonhadoras, meio reflexivas e aparentemente impossíveis”, disse o júri ao justificar a escolha.
“O filme combina queixa e estética de uma forma excelente, e clama por abertura: a cooperação global só será bem-sucedida se nós atravessarmos portas”, completou.
Outros filmes selecionados
Além de Todos os mortos concorrendo ao Urso de Ouro, o país veio forte, com cinco filmes, na mostra Panorama – a segunda mais importante e a única a ter uma premiação definida pelo público. Uma das obras foi “Nardjes A.”, do premiado cineasta Karim Aïnouz, um documentário sobre uma jovem ativista que luta pela democracia na Argélia.
Já “O reflexo do lago”, de Fernando Segtowick, mostra a vida dos que moram, sem energia elétrica, nos arredores de uma das maiores hidrelétricas da Amazônia, sob um olhar ambientalista.
Ainda na Panorama, o diretor Matias Mariani trouxe em “Cidade pássaro” a história de um músico que deixa a Nigéria para procurar o irmão desaparecido em São Paulo. Completaram a seleção “Vento seco”, de Daniel Nolasco, e a coprodução “Un crimen común”, dirigida pelo argentino Francisco Márquez.
Na mostra competitiva Encounters, que visa fomentar trabalhos “esteticamente ousados” e que possam trazer novas abordagens para o cinema, o Brasil concorreu com “Los conductos”, do diretor Camilo Restrepo, feito em coprodução com França e Colômbia.
Na seção Generation, além de “Meu nome é Bagdá”, o Brasil apresentou outros três filmes. Entre eles, “Alice Júnior”, de Gil Baroni: uma ficção divertida sobre uma youtuber trans, que já passou por festivais no Brasil.
O Festival de Berlim é um dos festivais de cinema internacionais mais importantes do mundo ao lado de Cannes e Veneza. Em 2020, foram exibidos na capital alemã 340 filmes produzidos por 71 países.