JÁ É CARNAVAL! –

Aos sete anos pulei meu primeiro Carnaval. Mamãe me presenteou com a fantasia de Mulher Maravilha, com detalhes em plástico, o que a tornava extremamente quente. Era minha personagem preferida! Curtia sua série e do Hulk, mas, convenhamos, Hulk não seria uma fantasia muito apropriada para mim. Minha mãe nunca me pintaria de verde! E aquela fantasia, com capa e tudo me fez sentir como se fosse a própria heroína. Tinha Até o laço! 

Fomos para o Aeroclube, na matinê, e lembro de cantar repetidas vezes Festa do Interior, de Gal Costa, rodando o salão, enquanto jogava confete e serpentina para cima e os pegava de volta no chão. Até hoje não entendo o motivo da música de São João nas tardes de Carnaval…

Acredito que foi a única vez que senti prazer em pular Carnaval. Depois disso vieram algumas idas à Pirangi, acompanhando o bloco das Virgens, uma festa ou show aqui ou ali, uma ida à Ponta Negra para ver os bloquinhos. Definitivamente, nada disso faz parte de minha essência.

O Carnaval tornou-se, para mim, um delicioso feriado prolongado, com direito a aluguel de filmes nas locadoras – que foram substituídos pela Netflix-, livros nas mãos e discussões calorosas com papai e mamãe ao final dos desfiles das escolas de samba do Rio, pois eles torcem pelo Salgueiro e Portela e eu, pela Beija-Flor. Isso também não faz mais parte de nossa realidade. Não assistimos mais aos desfiles, nem tampouco às notas dos jurados.

Na quarta-feira de Cinzas costumamos ir à igreja. Mesmo não sendo foliã de carteirinha, gosto de receber as cinzas e começar minha quaresma, refletindo sobre minha fé…

Enfim, chega mais um Carnaval! Apesar de não esperar ansiosamente pelas festas carnavalescas, quero a paz do trânsito nas nossas ruas e a delícia de não ter o despertador me acordando às 5h, para ir à academia. 

Não gosto de música alta, aglomeração, dormir tarde. Atualmente, isto é um bônus, percebo sorrindo. Por isso, o Carnaval não me faz falta. Sinto a ausência do feriadão prolongado, poder me esparramar na cama ou no sofá, comendo bobagens com a desculpa esfarrapada que é feriado, está liberado! 

Neste Carnaval não nos foi dado o feriado. Ele “estimula” a aglomeração. Como se as pessoas precisassem de estímulo para isso! Ligo a TV e logo me arrependo ao ver festas e mais festas, gente apinhada como se não houvesse amanhã. Talvez não tenha…  Uma pena isso. Em seguida, aparece o mapa do Brasil com alguns estados sinalizados em vermelho: alta de infecção. Não te assusta? Fico preocupada. Desligo a TV e me volto para minha leitura. Procuro calma. 

Engraçado como no Carnaval a máscara caiu! A máscara que cobre nossos narizes e bocas, numa busca consciente de nos protegermos caiu, foi deixada de lado. A máscara da empatia também. Não era este período que ficávamos mascarados? 

Senti saudade do confete, da serpentina, da Festa do Interior e, principalmente, da fantasia de heroína, onde sentia que podia salvar o mundo. A máscara ajudaria muito…

 

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora

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