Segundo o jornal Libération, Jean-Luc Godard morreu por suicídio assistido. O cineasta franco-suíço morreu nesta terça-feira (13), aos 91 anos.
De acordo com a publicação, uma fonte da família de Godard afirmou que “Ele não estava doente, estava simplesmente exausto”. “Foi uma decisão dele e é importante que se saiba”, completou a fonte do jornal.
Ainda segundo o Libération, uma segunda pessoa próxima ao cineasta confirmou a informação. A família ainda não se manifestou oficialmente sobre o assunto.
O suicídio assistido é legalizado na Suíça, desde que o paciente não tenha ajuda de terceiros no momento da morte.
Mais cedo, em um comunicado, Anne-Marie Miéville, mulher de Godar, afirmou que o cineasta “morreu pacificamente em casa, cercado por entes queridos”, em Rolle, àss margens do Lago de Genebra.
Godard é um dos fundadores da Nouvelle Vague, um dos movimentos mais importantes do cinema mundial, criado na França no fim dos anos 1950 e que levou novos paradigmas de estética às produções cinematográficas do mundo inteiro.
Cortes bruscos, câmera em mãos e diálogos existenciais são algumas das características que definem a estética do movimento, que influenciou diretores ao longo das décadas seguintes.
O aclamado diretor realizou mais de 40 longas-metragens ao longo de 70 anos de carreira, além de curtas-metragens, documentários experimentais, ensaios cinematográficos e vídeos de música.
Genial, criativo, polêmico, irrequieto e prolífico são alguns dos adjetivos atribuídos ao cineasta.
O presidente francês, Emmanuel Macron, se pronunciou sobre a morte do cineasta, a quem chamou de “gênio” e “iconoclasta”.
“Jean Luc-Godard foi o mais iconoclasta dos cineastas da Nouvelle Vague. Ele inventou uma arte decididamente moderna e intensamente livre. Perdemos um tesouro nacional e um gênio”, declarou.
Godard iniciou sua carreira como crítico de cinema. Depois, passou a fazer filmes e documentários experimentais.
Entre suas obras de maior destaque estão “Acossado” (1960) e “O desprezo” (1963), estrelado por Brigitte Bardot. Godard também é responsável por filmes como “Viver a Vida” (1962), “Alphaville” e “O Demônio das Onze Horas”, ambos de 1965, “Week-End à Francesa” (1967), “Carmen” (1983), “Eu Vos Saúdo Maria” (1985) e “Adeus à Linguagem” (2014).
Grande parte dos títulos adotava um novo estilo de filmagem, redefinindo as normas de câmera – mais portáteis e com mais movimento -, som e narrativa, além de cortes e diálogos existenciais.
Suas produções também causaram controvérsia em setores tradicionais, com a igreja católica. O longa “Je Vous Salue, Marie” (1985) foi rejeitado pelo então papa João Paulo II e chegou a ser proibido no Brasil na época, sob alegação de que a história era uma ofensa às crenças católicas.
O filme conta duas histórias paralelas. Uma é sobre José (Theirry Rode) e Maria (Myriem Roussel), um casal contemporâneo. José é taxista, Maria trabalha em um posto de gasolina. Um anjo anuncia a Maria que ela está grávida, o marido a acusa de traição, e ambos têm o desafio de aceitar a gravidez e os planos divinos. Na segunda história, um grupo estuda sobre a origem da vida, analisando algumas teorias. O professor de ciências tem um caso com uma aluna, com quem mantem discussões filosóficas. Godard utiliza as imagens e a narrativa para abordar a espiritualidade moderna e a relação entre corpo e espírito.
Em 2014, Godard ganhou o prêmio do júri do Festival de Cannes por “Adeus à Linguagem”. Em 2018, concorreu pela Palma de Ouro em Cannes com “Imagem e Palavra”, uma reflexão sobre o cinema e o mundo.
Além de vários Ursos em Berlim e Leões em Veneza, ele recebeu homenagens pelo conjunto de sua obra em premiações como o César, o Oscar e em Cannes.
Em março de 2021, ao completar 90 anos, Godard anunciou planos de se aposentar. Mas antes, declarou que faria mais dois filmes. “Estou finalizando a minha vida no cinema — sim, minha vida de cineasta — com mais dois roteiros. Depois disso, eu direi: ‘Adeus, cinema!'”, declarou.
Nascido em Paris em 1930, Jean-Luc Godard era de uma família franco-suíça, filho de um médico e neto de um dos fundadores do banco francês Paribas.
As influências de Godard também chegaram à música brasileira, com menção ao cineasta na icônica “Eduardo e Mônica”, do Legião Urbana.
“Eduardo e Mônica trocaram telefone, depois telefonaram e decidiram se encontrar. O Eduardo sugeriu uma lanchonete, mas a Mônica queria ver um filme do Godard”.
O cineasta também é citado na faixa “Selvagem”, dos Paralamas do Sucesso.
“O governo apresenta suas armas // Discurso reticente, novidade inconsistente // E a liberdade cai por terra aos pés de um filme de Godard”.
Skank, Engenheiros do Havaí e Cachorro Grande foram outras bandas nacionais que já citaram o diretor em suas canções.
Fonte: G1
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