O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), esteve pela terceira vez em uma semana, fora de seu gabinete para participa de um evento. Nesta quarta-feira (16) o tucano veio ao Rio Grande do Norte para receber o título de cidadão natalense. Mas, desta vez, diferentemente do que ocorreu em Salvador, quando Doria foi alvo de uma ovada em frente à sede do Legislativo, a homenagem não vai ocorrer na Câmara Municipal da cidade, mas no Teatro Riachuelo, do empresário e amigo Flávio Rocha, que também será festejado pelos parlamentares com a medalha Padre Miguelinho. Localizada dentro do Shopping Midway Mall, a casa é privada e receberá apenas convidados.
O decreto legislativo que permitirá a homenagem ao prefeito paulistano é de autoria do vereador e presidente afastado da Câmara, Raniere Barbosa (PDT) – ele é suspeito de participar de um esquema que desviou R$ 22 milhões da Secretaria de Serviços Urbanos de Natal, e nega qualquer irregularidade. O projeto foi apresentado no dia 16 de maio e aprovado dez dias depois.
Em sua justificativa, o parlamentar afirma que Doria merece a homenagem porque foi incluído, em 2016, na lista dos cem líderes de maior reputação no Brasil, de acordo com a empresa Merco. Barbosa citou ainda que entre 1986 e 1988, quando o tucano foi presidente da Embratur, os investimentos no turismo do Rio Grande do Norte e, sobretudo, na capital se intensificaram. Afastado por ordem judicial, Barbosa, no entanto, não estará presente na cerimônia.
Já o presidente da Câmara em exercício, Ney Lopes Júnior (PSD), nega que a decisão de homenagear Doria seja política. “O que existe são adversários políticos querendo politizar a cerimônia”, afirmou. Ele lembra que o título de cidadão natalense também será entregue ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em data ainda não certada. “Onde o vereador (que propôs o título a Lula) quiser que seja a cerimônia, eu vou determinar que seja. O mesmo tratamento será dado ao ex-presidente”.
Lopes Júnior nega ainda que a mudança para o teatro tenha acontecido após as manifestações contra o tucano em Salvador. “De forma alguma. A decisão de ser no teatro se deu porque o número de convidados era muito grande. O agraciado Flávio Rocha ofereceu o teatro para que a solenidade fosse lá. A Câmara não está tendo nenhum gasto”, afirmou.
Um manifesto que circula nas redes sociais pede a revogação do título de cidadão natalense ao prefeito João Doria. Sem autoria identificada, o texto repudia a decisão da Câmara de Vereadores e questiona “qual fato da biografia do Sr. João Doria o aproximou da sociedade natalense”. Segundo a assessoria da Casa Legislativa, porém, o manifesto ainda não foi entregue até a manhã desta terça-feira.
Se uma das justificativas da Câmara Municipal para entregar o título é o período em que Doria ocupou a presidência da Embratur, o mesmo argumento é usado pelo manifesto para criticar a decisão. “A maior aproximação do Sr. João Doria com o Nordeste ocorreu quando esse teve a oportunidade de atuar como presidente da Embratur e que, no exercício dessa função pública, nunca se dedicou à proposição de uma política consistente para o desenvolvimento turístico do Nordeste, sendo, inclusive, criticado por entender que a valorização midiática da seca, e não as características culturais do povo nordestino”, diz o texto.
Embora o Sindicato dos Petroleiros e Petroleiras do Rio Grande do Norte (Sindipetro-RN) afirme não ter nenhum protagonismo na autoria do texto, funcionários e até diretores têm compartilhado e incentivado sua assinatura. O diretor de Comunicação, Márcio Dias, concorda com a iniciativa. “Não existe nenhuma ofensa ao prefeito, mas o título de cidadão deve ser entregue a alguém que tenha prestado relevante serviços àquela cidade, o que não condiz com a realidade. Não sei nem se Doria já esteve aqui em Natal”, disse.
Filiada ao PT, a dona de casa Rejane Soares, de 54 anos, disse que tomou conhecimento do manifesto pelo Facebook, e deu sua assinatura. “Nós temos pessoas aqui no Estado que merecem esse título, que fazem muito mais pela capital, e nem são reconhecidas”, disse. Como o manifesto não é assinado, o Estado não conseguiu entrar em contato com a organização do texto para saber o número de assinaturas já coletadas. Doria não comentou.
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