JOGO NO QUADRADO –

Na década de 1950, por volta de 1955, aconteceu o privilégio vivencial de participar do Campeonato de Várzea de Porto Alegre, a integrar o time varzeano da Rua da Margem, que chegou a sagrar-se campeão porto-alegrense, ao vencer o esquadrão do Menino Deus, no final.

Ganhou-se o epíteto de Alemão – por ser branco e de olhos claros. Ser chamado de Negão ou Alemão nunca foi pejorativo, sequer “politicamente incorreto”, como querem os adeptos de frescuras terminológicas, atualmente.

O zagueiro era o “beque de espera”, no dizer do jargão daquela época. O meio campista, por sua vez, era chamado de “center half”, enquanto que o atacante diziam ser o “forward”, cuja pronúncia inglesa era difícil e arrevesada.

Os goleiros eram denominados de “goal keepers”.  Os técnicos de futebol eram listados pelo Correio do Povo e Folha da Tarde com a nomenclatura de “coachs”, a dirigirem os times (teams).

Os radialistas das emissoras Gaúcha e Difusora, ao transmitirem os jogos importantes, mais pareciam locutores de Londres, lá no centenário Wembley Stadium.

Afinal de contas, o futebol teria sido inventado pelos ingleses, sempre ciosos de seu idioma e do Império Britânico.

Os beques (backs), zagueiros, donos solitários das pequenas áreas dos campos, último reduto a ser transposto num jogo de futebol, eram chamados de “beques de espera”, restritos ao espaço antecedente à intermediária.

Divisórias marcadas com cal virgem, que muitas vezes a chuva esmaecia.

Os “beques de espera” eram selecionados por serem corpulentos, raçudos, vigorosos, aguerridos, mas sempre de pouca habilidade.

Em resumo: não passava ninguém! Verdadeira muralha, assustadora, porquanto o cartão vermelho inexistia, então. Sequer o amarelo, também.

 O jogo duro era cartão de visita na apresentação do futebol daquela época, nos moldes da zaga do Flamengo, composta por Pavão (Marcos Cortez) e Biguá (Moacir Cardoso), dois intransponíveis zagueiros, senhores da área.

Passou-se pelo juvenil do Internacional, ainda no campo dos Eucaliptos, na Rua Silvério, sob as ordens do laureado técnico Teté, (José Francisco Duarte Júnior), hexacampeão gaúcho.

Rapidamente, verificou-se que os dotes futebolísticos do Alemão não integravam uma carreira promissora!

Amava o Sport Clube Internacional, o Colorado, a relembrar o desempenho do saudoso tio, o Coronel da Brigada Militar Wolmy das Missões Bocorny, que foi técnico em 1941, 1942, 1943 e 1944, além de recordista brasileiro de velocidade, em 100 metros.

Era o nosso ídolo!  Longevo campeão, inclusive de certames equestres da época.

Atualmente os zagueiros vencedores continuam a jogar nos quadrados das pequenas áreas dos campos da vida, enquanto os desajustados optam por áreas da ladroíce, malversação e corrupção.

Raros são os verdadeiros “beques de espera” nesse mundo em decomposição societária.

Oremos, senhores!

 

 

 

 

 

 

José Carlos Gentili – Jornalista, ex-jogador de várzea

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