JOHN LENNON, O MAGO QUE OUSOU VATICINAR: “IMAGINE QUE NÃO HÁ PARAÍSO…” –
A 8 de dezembro de 1980 morre assassinado John Lennon em NY.
<> “Imagine todas as pessoas vivendo pelo hoje / Imagine que não há países (…) Imagine todas as pessoas compartilhando o mundo todo …”
[Imagine all the people living for today / Imagine there’s no countries (…) Imagine all the people sharing all the world …]
Recordo-me do lançamento do filme Help no Rio de Janeiro, final dos sessenta, eu, adolescente, caí na asneira de assisti-lo após sair do ginásio, no Cine Baronesa, no Méier. A multidão de jovens, elas em maioria, de pé sobre as poltronas, no auge da música, muitas caíram para trás, como se tomadas por um transe infernal.
Na época havia certo bloqueio moral contra “os cabeludos britânicos” no rádio e na tevê brasileira. A Rádio Mundial do Rio teve espantoso recorde de ouvintes durante as duas horas da apresentação de Big Boy, um locutor simpático e gorducho, que fora comissário de bordo da Varig, amigos conseguiam trazer novos acetatos de vinil de Londres. A cada semana ele “revelava” uma nova “bomba” dos Beatles. Na época os minidiscos continham apenas duas músicas. O disco She love you vendeu um milhão de cópias em uma semana!
Em programas de tevê havia debates acerca da “péssima influência dos cabeludos de Liverpool”. Lembro-me de um juiz à mesa da discussão pela então Tevê Tupi de Chateaubriand, pedir mais atenção para as críticas ao quarteto. E dizia: “ouçam a música Yesterday que vocês irão mudar de opinião!” A célebre música ouvida sem as guitarras, mas com base em cordas orquestrais, realmente fez abrir o leque de admiradores pelo mundo. “Oh, I believe in yesterday”, eu acredito no ontem.
Dessa forma o Brasil e o mundo ficavam hipnotizados com a musicalidade e alegria dos músicos ingleses. Pelo noticiário televisivo todos assistiam à conquista do Japão e dos EUA pelos Beatles, a mesma verve, a mesma histeria. Foram anos de devastação das culturas regionais, no Brasil a Jovem Guarda usufruía, mas a Bossa Nova e o samba perdiam espaço nas audições das rádios.
Até que numa apresentação na Indonésia, o quarteto nem sequer chegou a descer da escada do avião, foram agredidos por agentes da então ditadura a sopapos e pancadas e tiveram que se refugiar dentro do avião, foram expulsos. A causa: alegaram que os músicos esnobaram a primeira dama Imelda Marcos.
Em 1965, a rainha Elizabeth II nomeou Lennon, McCartney, Harrison e Starr membros da Ordem do Império Britânico. As apresentações eram apoteóticas, em Plymont, EUA, a multidão foi afastada pelos Bombeiros com uso de jatos dágua.
Até que a revista DateBook divulgou entrevista em que Lennon reiterou a afirmação: “somos mais populares que Jesus cristo”. Houve indignação generalizada no mundo por cristãos, notadamente fundamentalistas, até mesmo membros do Islã se solidarizavam com a ofensa ao Profeta Jesus. O Papa Paulo VI se manifestou com veemência. John Lennon chegou a pedir desculpas publicamente. Em 2008 o Papa Bento XVI optou por perdoar John pela expressão inconfessável.
Em 16 de janeiro de cada ano, a partir de 2001, passou a ser celebrado o Dia Mundial dos Beatles pela UNESCO. Esta data tem relação direta com a abertura do Cavern Club em 1957.
A 8 de dezembro de 1980 Lennon foi baleado em frente ao Edifício Dakota por um psicótico do Havaí à queima roupa. Passados estes quarenta anos o assassino Mark David Chapman continua preso.
Imagine… You may say I’m a dreamer / But I’m not the only one / And the world will be as one …
Imagine… Você pode dizer que eu sou um sonhador / Mas eu não sou o único / E o mundo será como um só.
Luiz Serra – Escritor