O Ponto de Vista conversa hoje com o advogado criminalista Jorge Guimarães, pós graduando em Direito Penal e Processo Penal, que vai dar a sua visão sobre a situação do profissional do direito em nosso estado. Ele também dá seu ponto de vista sobre a OAB, o ECA, as recentes rebeliões no sistema prisionais, os Direitos Humanos, além de sugerir algumas mudanças no Direito brasileiro.
P1– Quando você se formou em Direito e desde quando advoga no RN?
R– Eu me formei em Direito em 1989, pela faculdade UNIG Rio de Janeiro. Advogo em Natal desde o ano de 2000. Eu vim para cá por causa de laços familiares e também por vislumbrar um horizonte amplo para o exercício da minha profissão. Aqui já fui Presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RN. Fui também vice presidente da Comissão dos advogados criminais da OAB/RN, Juiz relator da Comissão de Ética e conselheiro estadual, além de ter exercido outros cargos. Inclusive, como diretor jurídico e vice presidente de agremiações políticas como o PSDC e atualmente, do PV. Eu sou Pós graduado em Direito trabalhista e Pós graduando em Direito Penal e Processo Penal. Fui também professor de Direito e Legislação no ensino fundamental.
P2– Que acha da profissão de advogado?
R– A profissão do advogado é antes de mais nada, muito estressante. Mas interessante, pois lida com conflitos e daí se preocupa em buscar uma ampla justiça. Quero um país justo e por isso a escolha dessa profissão. E não me arrependo da escolha. Apesar que hoje o advogado estar totalmente sendo alvo de críticas e desrespeito. Ainda mais se for criminalista, que é a minha área específica. Mas atuo também na cível, família, tributária, trabalhista, advocacia de apoio e ainda no direito empresarial.
P3– Voce que já atuou tanto junto a OAB, o que acha da instituição a nível nacional?
R– Sobre a OAB nacional, eu vejo uma atuação regular em defesa do advogado. Mas entendo que deveria ter uma comissão de prerrogativas mais atuante e eficaz. Acho que deveria haver cursos grátis para aperfeiçoar o profissional. E ainda ela deveria cuidar de Plano de saúde e Aposentadoria dos advogados, além de ter Clube de lazer em todos os Estados
P4– Como você vê as ações da OAB/RN em relação aos advogados?
R– Acho que a atual diretoria da OAB do RN deve cumprir as promessas feitas na última campanha. Cursos grátis de aperfeiçoamento aos profissionais; defesa das prerrogativas efetivas; lutar pela igualdade nos tribunais do advogado promotor e juiz; também ter um clube de lazer; providenciar Plano de saúde ou a volta da clínica dos advogados; vagas nos estacionamentos dos tribunais para nós profissionais do direito. Acho que o respeito ao advogado deve voltar a reinar em primeiro plano. Inclusive, deve existir um canal direto entre o advogado e o presidente da Ordem.
P5– Como analisa as outras entidades ligadas à sua área?
R– Começo pelo Itep, sem estrutura até para laudo pericial de interditado e de acidentado. O Perito judicial e o assistente social sofre a falta de estrutura para atender as pessoas com gratuidade de justiça, até para uma simples entrevista para ação de guarda. Sobre o Tribunal de Justiça, o problema começa pela falta de vaga para o advogado estacionar o seu próprio carro, enquanto que para os promotores e juízes as vagas sobram. Marcar audiência para despachar com um Juiz, há vara que tem de ter dia marcado. E nas audiências o advogado tem que pedir até água para beber, servida em copo diferenciado do magistrado e promotor. Nos outros tribunais o advogado também sofre com estas discriminações. A melhor é a Vara Federal. Na própria OAB, faltam salas no interior, que sejam melhor estruturadas. Falta fiscalização diária nos corredores dos tribunais. Teríamos que ter gabinetes em todas as varas, em comum com os defensores, para melhor atender aos nossos constituintes.
P6- Na sua opinião, como anda o respeito a figura do advogado no RN?
R– O respeito ao profissional do direito está abaixo do limite. Quando cheguei no RN o tratamento ao advogado era muito melhor. Eu até estranhei porque no meu próprio Estado eu não via este tratamento de “dr” pra la, “dr” pra ca. Mas com o tempo isso foi acabando. O advogado hoje não é visto como profissional e sim, como um intruso. Olha, o respeito deve e tem que voltar a reinar. O servidor deve respeitar o profissional, principalmente na delegacia. Veja bem hoje, se você quiser entrar no presídio, por exemplo, neste último incidente, você fica de braços atados. Porque sempre tem portarias proibindo. O advogado tem que ser atuante para poder exercer a profissão. A OAB deveria fazer uma portaria e pregar em todas as secretarias, presídios e órgãos públicos, para fazer valer os direitos fundamentais do advogado.
P7– O que precisa ser reformado no Direito brasileiro?
R– Deve ser reformado o Código Penal e o de Processo Penal. Há leis desnecessárias. Penas curtas para crimes hediondos e longas para crimes de pequeno, de baixo teor ofensivo. O Processual deve ter dispositivo que faça separar os presos pelo grau de periculosidade. Deve trazer também modificação na obrigatoriedade da liberdade. E fazer cumprir a lei das execuções penais. Cito como exemplo os regimes fechados no presídio, com trabalho e estudos efetivamente. O Semiaberto, com Colônia agrícolas. Sem celas . Galpão para dormir o apenado e de manhã ele trabalhar na Colônia. E o aberto – sair para trabalhar fora e também para estudar. Esta condição é a que deveria ser aplicada, pois a lei assim determina. Mas na prática é outra coisa.
P8– Como você está vendo essas últimas rebeliões nos presídios brasileiros?
R– A falência do Estado está mais do que comprovada. Mas isso pode ser retomado, desde que sejam tomadas medidas drásticas. A Separação das facções nos presídios me parece essencial. E deve acontecer urgentemente. Depois, é necessário observar a aplicação da lei. Deve ser observada a dignidade do apenado que está ressocializado e que ainda lá se encontra. Apenado que furtou ou tem que ficar segregado por ter transitado a sua pena em julgado não pode ser misturado com pessoas que são perigosas É preciso avaliar aqueles que têm condição de ter prisão domiciliar monitorada. A saída é esta. E a educação precisa ser perseguida, como base e oportunidade de empregos. Também efetivar o setor do egresso, ou seja, o apenado ao sair deve ir direto para um trabalho digno, sem levar a marca de ex-presidiário. Com isenção de impostos para as empresas, isso será possível. Mas como pode haver ressocialização se não há respeito ao ser humano? A violência só vai aumentar se for combatida somente com violência.
P9– Além da Reforma do Direito brasileiro, que outras reformas você defende?
R– A reforma tributária precisa acontecer. Deveria ter somente um imposto. O imposto único, que já foi defendido no passado. A reforma política deveria ser ampla, inclusive com a diminuição do números de cadeiras de vereador, deputados e senadores, como também as suas assessorias. Tudo isso para promover sobra de recursos para se empregar na educação. Vejo somente essas saídas para se mudar o cenário atual. E também leis visando a proteção do meio ambiente, com aplicação de multas severas para quem as descumprir.
P10– o que pensa sobre os Direitos Humanos?
R– Ha muita crítica sobre esse assunto. Mas entendo que a proteção do ser humano e dos seus direitos fundamentais é a sua função básica. Atualmente a sociedade vê os Direitos Humanos apenas como defensor de bandidos. Mas penso que a defesa dos direitos, em toda sua plenitude, deva ser para todos.
P11-A crítica se faz porque muitas vezes os infratores são mais protegidos que as suas vítimas. Como equilibrar essa situação?
R-Os direitos humanos atendem a proteção de todos. Há proteção da vítima, inclusive, se for o caso, dando-lhe até outro nome e ainda com moradia no exterior. Deve haver a comunicação desses benefícios. Vejamos que o advogado também atua como assistente da promotoria. O equilíbrio necessário seria a divulgação do apoio para as vítimas. Se olharmos então fora do direito penal, os direitos humanos devem intervir e com força, nos hospitais públicos. Mas a sociedade não vê esse lado e somente a proteção ao bandido. Temos que quebrar este paradigma. Quando fui presidente dos direitos humanos fui agraciado pela OAB com um certificado de bons préstimos pelos serviços prestados. O que eu fiz foi somente preservar a proteção dos direitos das pessoas. Falta então descruzar os braços e divulgar o que é feito.
P12-Ja não está na hora de se corrigir defeitos do ECA, que copiou o modelo francês, mas que no Brasil ensejou tanta distorção?
R-O ECA é um dos melhores do mundo, na minha opinião. Acho que não precisa correção mas sim se fiscalizar a aplicação da lei. A propósito, eu sou contra a diminuição da menoridade penal pois não a vejo como saída para diminuir a violência. Pois daqui a pouco teremos a diminuição da idade para 10 anos. Mas a distorção existe na falta de estrutura e principalmente na falta de educação básica. Entendo que o ECA deve ser aplicado na sua integridade, mas repito, precisamos ter uma Reforma do código penal e processo penal. Aplicação da lei de execução criminal em todas as suas fases e um foco real na educação básica com igualdade e oportunidade para todos
P13-O menor que comete crime deveria ser preso?
R– No caso de crime de morte praticado por menor a pena deve passar de três para cinco anos com direito a progressão. E nos demais, simplesmente o aumento da pena não acabaria com a violência. Deveria primeiro se ver a execução da pena para aumentar o mínimo da mesma. Precisa haver a separação dos crimes. O menor deveria ir, como manda o Eca, para os 90 dias de internação e ser julgado de imediato . Independente da idade, todos tem que cumprir suas penas, com ressalva aos Idosos, para não retroceder nos direitos adquiridos.
P14-O Estado brasileiro parece anestesiado com relação às suas responsabilidades. O caos reina na saúde, educação, segurança, etc. O que precisa ser feito para que esse estado de coisas mude?
R-O anestésico estatal está na falta de foco e de recursos. Deveria haver fiscalização para gerar receitas e ser efetivamente aplicado na saúde, educação e segurança. Mas ja colocaram o limite de gastos. Precisa haver atitude e agirmos efetivamente nessas áreas afetadas. Mesmo antes do limite, o Estado não agiu por falta de interesse político. Basta fiscalizar, aplicar as multas, gerar receitas para saúde, segurança etc. O fato é que temos que agir rapidamente para mudar o quadro atual.