Tupiniquins, bororós, caetés e várias outras centenas de tribos indígenas da Terra de Pindorama, a sobreviverem no hemisfério sul desde tempos imemoriais, comiam veados e gazelas, animais da fauna silvestre, saltitantes e inquietos, quando da chegada dos portugueses, em 1500.
A caça, a pesca e a mandioca nativa sempre foram as alavancas da sobrevivência.
Todavia, a antropofagia era o procedimento vivencial dos tupinambás, que se banqueteavam ao comer seus vizinhos. Afinal, guerra é guerra!
Não é o caso do naufrágio de Dom Pedro Fernandes Sardinha, o primeiro bispo brasileiro, que foi comido pelos caetés, em Coruripe, em 15 de junho de 1556.
Os caetés não se limitaram a comer pescado, mas também os noventa tripulantes da nau Nossa Senhora da Ajuda, que no caso concreto não ajudou. Em represália, a Igreja dizimou a tribo.
Desde então, alguém está a comer alguma coisa, bicho ou não.
A historiografia brasileira é uma verdadeira colcha de retalhos vivenciais, a ponto de o alemão Hans Staden, integrante da frota portuguesa que combatia os franceses no contrabando de pau-brasil haver sido aprisionado, em 1549, pelos tupinambás, mas não comido, graças ao seu grande arcabuz.
A salvação é estar armado!
Em naufrágio, em 1509, o lusitano Diogo Álvares Correia, também arcabuzeiro, chegou a relacionar-se com a índia Paraguaçu, filha do pajé Taparica, da tribo dos tupinambás, e foi casar com ela na pequena comuna francesa Saint-Malo, onde ela recebeu o nome de Catarina do Brasil, em cerimônia eclesial que contou com padrinhos ilustres, entre eles Jacques Cartier (descobridor do Canadá) e sua mulher Mary Catherine des Granches.
O negócio é estar sempre armado!
Somos trogloditas do espaço sideral. Somos um país continental, falante da Língua de Camões, e com sua população multifária, de credos, cores e idiossincrasias. Somos um cadinho amalgamado das relações culturais entre o Reino de Portugal e a Terra Brasílis, verdadeiro genoma embrionário, algo singular, a reunir terras e povos díspares num contexto civilizatório, abaixo da Linha do Equador, que permitiu ao batavo Caspar Barleaus, vivente no Brasil, poder afirmar: “ultra aequinoxialem non peccari”.
Somos gente sem memória, a esquecer a figura de Bernard Rajzman, campeão mundial de voleibol, genial criador da jogada JORNADA NAS ESTRELAS, que no Mundialito de 1982, no estádio do Maracananzinho, encantou o Brasil.
O Brasil não pode esquecer jamais que Bernard Rajzman integra o Hall da Fama do Comitê Olímpico do Brasil (COB), reconhecido mundialmente.
O Brasil precisa, também, armar-se de memória, tradição e educação!
José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília