DALTON MELO DE ANDRADE

Dalton Melo

Em 1965, semanas passadas, fazia meu curso de MBA na Utah State University, uma das famosas “land grant universities”, criadas pelo governo federal americano especialmente para apoio à agricultura. Essa foi criada em 1888. Se tornaram, todas elas, renomadas universidades.

 No meu curso, a matéria sobre Finanças tinha como professor Scott Durdan, figura simpática e de quem me tornei amigo. Falava sobre taxas de juros, custos financeiros, e temas relacionados.

 Citou que, àquela época, que os juros básicos nos EUA estavam altíssimos, 7% ao ano. Não resisti e pedi que ele, por favor, repetisse o número e o tempo. Completei a pergunta com a informação de que, na mesma época, no Brasil, eles estavam à 3,5%. Notei a surpresa em sua fisionomia e sua reação foi: 3,5%? Razoabilíssimos. E foi aí que completei – ao mês. Não caiu porque estava sentado. Não quis acreditar, achou que eu o estava querendo gozar, por ele ser descendente de escocês, conhecidos por seu pão-durismo e me fez expor o assunto, com mais detalhes, à turma toda. As taxas de cartão de crédito estavam pelos 18%, em média.

 Lembrei-me disso ao ver na TV qual a nossa taxa de juros se atrasarmos o pagamento de nossos cartões de crédito. Conto vantagem aos amigos, por ter talvez o cartão Diners mais antigos do RN, 1964. Explico; é que chegaram ao Brasil trazidos pelos Klabin e como a firma de meu pai era representantes deles no Estado, fiz o meu cartão como exemplo. Tenho até hoje e dias atrás me avisaram que me estavam enviando um brinde comemorativo. Pensei num automóvel, mas recebi uma agendita meio mixuruca. Hoje, esse cartão é administrado pelo Citi. O mantenho por ser um tradicionalista emérito, mas quase não o uso. Os do Banco do Brasil são os meus preferidos.

 Vi agora na internet que essas taxas estão quase em 500% ao ano, para ser preciso, a mais alta está em 492,38%. Isso que dizer que, se você ficar devendo cem reais durante um ano, no final vai pagar R$593,59. No meu tempo, isso se chamava roubo à mão armada. Hoje, não precisa da arma. À juros de 18%, o valor a ser pago seria RS$118,00. (Tabela “Cálculo Exato”, da Internet). Deve estar certo.

Bancos centrais foram criadas para controlar a moeda, combater inflação, estabelecer taxa de juros, ou seja, regular o mercado financeiro. O “spread”, diferença entre juros pagos e cobrados, deve ser uma dessas preocupações. Mas, toleram essas taxas abusivas e não dão um pio. É de se perguntar: onde vamos chegar? E por que as toleram? A justificativa mais usada pelos bancos é a inadimplência. Não me convence.

Dalton Melo Ex secretário de Educação do RN

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