JUVENTUDE? –
– Tenho medo de morrer jovem!
Solto esta frase em meio a um café com meu esposo, numa tarde despretensiosa, onde apenas gostaríamos de saborear um café quente e falar amenidades, nada filosóficas.
Ele gargalha e me responde:
– Não se preocupe. Nós já passamos da idade de morrermos jovens.
Entendi o que ele quis dizer no auge de nossos 47 anos… Pensando bem, entendi mais ou menos, porque continuo me achando uma “menina”!
Rimos até a barriga doer e depois voltamos ao assunto, agora mais leves e acolhidos pela confiança de podermos compartilhar nossas preocupações:
– Tenho medo de não ver nossos filhos crescerem, formarem família, estarem encaminhados.
Deve ser uma preocupação natural dos pais, assim como nos preocupamos se comeram, se estão agasalhados, se têm dinheiro na carteira, se olham para os dois lados ao atravessarem a rua, se não aceitam comidas de estranhos, se não dão o endereço no mundo virtual,…
Muitos “se”…
Tantas e tantas coisas que nos preocupam! Como se isso mudasse o curso de nossas histórias…
Medo, na proporção certa, faz bem. Ele nos torna moderados, cautelosos, coerentes. O medo é para a alma, quase o que a febre é para o corpo: sinaliza algo errado. Então, temos medo de transmitir muito medo aos filhos e eles não viverem. E a ideia não é essa! É a posologia adequada que devemos ministrar. E qual é ela?
Nem de menos – não surte efeito algum. Nem de mais – pode envenenar.
Continuamos nosso café e eu, no meu silêncio interior me pergunto quantas vezes me deixei envenenar pelo medo. Não foram poucas… Não foram distantes… Mas, quase sempre, consegui me acalmar e voltar ao prumo certo. Quase sempre…
Precisamos ensinar aos nossos filhos a posologia certa. Porém, sendo muito honesta, a gente não consegue ensinar isso. Então, talvez o meu medo é que eles não se cuidem o suficiente e que eu entenda que não posso mudar isso. Porque na verdade, as vidas deles serão vividas por eles e não por mim. Assim como vivo minha vida e não meus pais… Talvez esse seja o verdadeiro medo: não poder protegê-los das doses erradas da vida…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Escritora