JUVENTUDE –

Éramos jovens, amávamos os Beatles e os Rolling Stones, mas, também, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Caetano Veloso, João Gilberto, Elis Regina, Nara Leão, Maysa, Roberto Carlos, Cely Campello e muitos outros artistas brasileiros. Anos 60 e70, o Brasil como o Mundo passava por uma revolução cultural, éramos inovadores, tempos da Escola de Engenharia, tempos de uma juventude sadia, vivíamos alegres, cantando a beleza da vida pela bucólica Natal.

Aqui fizemos o nosso rancho a beira do Rio Potengi, o Brisa Del Mar, A Palhoça, Galinha de Mãe, Tenda do Cigano, Confeitaria Atheneu, eram os nossos pontos de encontros, além dos velhos cabarés. Nesses lugares construímos vários “causos”

Quase menino, comprei uma velha Kombi e nela saímos para o bar e restaurante A Palhoça, que tinha umas barracas feitas de palhas de coqueiro coladas uma na outra, dava para se ouvir as conversas. Em uma das ocasiões eu ia passando e tinha um cidadão falando mal da polícia e dizendo que sabia quem tinha morto o deputado Carlindo Dantas. Eu ouvi tudo e combinei para quando o cidadão (que estava embriagado) passasse a gente dava ordem de prisão já que um dos colegas tinha uma carteira do NPOR. Dito e feito, quando o cidadão passou puxamos para dentro da barraca e foi dada voz de prisão, ele teria que falar quem tinha morto o deputado. Como o pobre homem não sabia começou a chorar, pediu para ser solto, ajoelhou-se, olhou para mim e disse.

– Doutor me solte que até corno eu sou, vamos conhecer minha mulher. Demos uma boa gargalhada e soltamos o pobre homem.

Ainda na Palhoça, na época do incêndio do Mercado da Cidade Alta, surgiram várias versões de quem tinha sido o culpado. Pois bem, um belo dia de sábado fomos iniciar os nossos “trabalhos” por lá. Sempre íamos para barraca bem-te-vi. Vizinho a nossa barraca estava um conhecido advogado com um cliente, que era um dos “investigados” de ser causador do incêndio, pois tinha saído do seu estabelecimento e deixado as luzes acesas e causado um curto circuito.

Em um dado momento ouvi o velho causídico, elogiar muito a sua profissão, foi quando combinei com os dois colegas que iria armar mais uma e falei bem alto.

– Eu não me formei em direito porque achei muito fácil. Atingi em cheio o objetivo, ele levantou-se e perguntou: os senhores são formados em quê? Somos engenheiros eletricistas, respondi, (a conversa dele com o cliente era sobre circuitos elétricos), nós éramos apenas estudantes de engenharia civil.

Fomos convidados a fazer parte da mesa e responder várias perguntas com despesa pagas. Depois de bebermos muito, eu resolvi confessar a verdade e fiz a apresentação dos colegas, todos, filhos de amigos dele.  Surpreso e com um tom de voz eloquente falou.

– Bandidos vocês me enganaram, e nos deu um grande abraço dizendo.  – Como castigo vocês vão passar a tarde toda bebendo aqui comigo e tudo por minha conta. Era o que nós queríamos.

“A juventude é a embriaguez sem vinho.”

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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