LACAN E O CAMPO DA LOUCURA – Laurence Bittencourt

LACAN E O CAMPO DA LOUCURA –

Após o surgimento da psicanálise com o seu criador, o médico neurologista, Sigmund Freud, final do século XIX e inicio do século XX, a mesma, passo a passo, foi ganhando inúmeros adeptos por todo o mundo. O crescimento foi vertiginoso. O seu fortalecimento se consolidou com a criação da primeira Associação Internacional Psicanalítica-IPA, que vigora até os dias atuais. Hoje, a psicanálise tem diversas Instituições espalhados pelo mundo.

Entre os vários adeptos conquistados, a psicanálise teve grandes nomes que ampliaram os horizontes teóricos, clínicos e metodológicos da jovem ciência. Entre esses grandes nomes, alguns se destacaram criando novas perspectivas e abordagens. Podemos citar os nomes de Melanie Klein e Donald Winnicott.

No entanto, entre os pós-freudianos, um desses nomes, despontou no cenário internacional psicanalítico, pelo vigor do seu ensino, pela transmissão renovada e principalmente pelas novas perspectivas clinicas. Seu nome: Jacques Lacan.

Psiquiatra de formação, Lacan fez pouso, ainda que timidamente, na psicanálise, já a partir de sua Tese de Doutorado escrita em 1932 cujo título, “Da psicose paranoica em suas relações com a personalidade” já demonstrava primeiro, um grande conhecimento sobre a psiquiatria e a psicopatologia de sua época, confrontando grandes nomes como Kraepelin, Sérieux e Capgras, Karl Jaspers, entre outros e segundo, sua imensa capacidade clinica, ao analisar na Tese, a paciente paranoica que ficou conhecida como “Aimée”.

Hoje podemos dizer, dentro de uma perspectiva muito mais ampla e segura, que se Freud se interessou vigorosamente pelas Neuroses, ainda que tenha dado grandes contribuições ao campo das psicoses (basta lembrar seu texto clássico, sobre o jurista psicótico, Daniel Paul Schreber) Lacan, vai privilegiar as Psicoses, já a partir de sua Tese. Ainda que tenha dado enormes contribuições as estruturas neuróticas e perversas.

A sua vasta obra inclui diversos artigos, um livro intitulado “Escritos”, outro publicado postumamente “Outros Escritos” e os seus vários Seminários hoje com boas traduções no Brasil.

Na verdade, os Seminários, que tiveram inicio em 1953, com o “Seminário Livro 1 – Os Escritos técnicos de Freud”, tratava-se de aulas ministradas anualmente, com, a cada ano, Lacan escolhendo um tema em que se debruçava largamente. A esse conjunto de Seminários, o próprio Lacan intitulou de “um retorno a Freud”, porque segundo ele, a psicanálise com os pós-freudianos, ou parte deles, estava desvirtuando os ensinamentos do mestre vienense.

É inegável a grande e vasta contribuição de Lacan para a teoria e a clínica psicanalítica. Hoje é possível dizer, que Lacan mesmo se mostrando “fiel” a Freud, impôs um estilo próprio, trazendo inovadoras contribuições. É famoso, ao iniciante em psicanálise lacaniana, se deparar com um estilo muitas vezes hermético e difícil. Mas depois que se vencem as barreiras iniciais, o que aparece são formulas geniais, lógicas, que esclarecem questões centrais da clinica psicanalítica.

Para se ter uma ideia da genialidade de Lacan, basta mencionar o conceito formulado por ele, para se pensar as estruturas psicóticas, que foi o conceito de “forclusão do nome do pai”, e que continua sendo um operador essencial tanto do ponto de vista teórico quanto clínico.

O termo “forclusão ou foraclusão”, Lacan extraiu do mundo jurídico, e o “adaptou” a teoria psicanalítica para dizer que nas psicoses, a subjetivação do “nome do pai” não foi inserido, ou seja, não foi simbolizado, portanto, foi forcluído, gerando com isso, um furo no simbólico, na subjetividade simbólica do psicótico. Aquilo que era para ter sido incluído em certo tempo, no inconsciente do sujeito psicótico, não ocorreu. Na busca de um equilíbrio com a realidade, o psicótico tenta manter-se no mundo com as “bengalas” imaginárias, até o momento em que é convocado a “sustentar” um nome, mas, por faltar o que Lacan intitulou de “o nome do pai”, começa o desastre em cadeia.

Lacan e toda sua interessante, inteligente e inovadora teoria, continua sendo um grande referencial ao alcance de todo aquele que se interessa pelo campo da loucura.

Laurence Bittencourt – jornalista e psicólogo

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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