Os botos-cinzas (tucuxis) estão rareando ao longo do alto Araguaia e em outros rios da Amazônia. É preciso muita atenção ao meio ambiente amazônico!
Lembro-me de, nos tempos das missões da FAB na Amazônia, década de 70, ao acamparmos à margem do rio, ouvir incessante à noite o chio lamentoso e alto, com a rotina de respiração dos botos, mamíferos aquáticos, que precisam subir à superfície da água em busca de oxigênio.
Uma realidade: os botos-cinzas estão sumindo em tantos lugares.
Uma advertência preocupante: a população de botos-cinza ou tucuxi (Sotalia fluviatilis) vem caindo pela metade a cada nove anos na Reserva Mamirauá, no Amazonas, afirmam os cientistas.
Há vários motivos: barcaças em travessia de comunidades, com o óleo que se esvai no correr dos rios; o crescimento das cidades ribeirinhas; a pesca sem controle em certas regiões, em que os pequenos peixes, alimentos dos botos, são vítimas da pesca predatória.
Não há descrição pior do que constatar que um divertido boto-cinza foi arpoado e encontrado inerte à beira de um rio.
Mas há a esperança de sempre, essa vindo do Rio Grande do Norte: os chamados golfinhos tem sido tema de estudos há alguns anos pela UFRN, no Departamento de Biociências, com a profa. Renata Sousa-Lima e a pesquisadora Nara Pavan Lopes, examinando a “variação acústica nos botos-cinza”. No estudo em tela houve a coleta e verificação de que no rio Potengi em estuários da Baía Formosa, litoral sul potiguar, em maio de 2015, verificou-se a presença de cerca de 60 a 90 indivíduos da espécie. Ainda a confirmar se a positividade dos dados.
E o boto-tucuxi (além do cor-de-rosa) também é folclore e cultura.
Na arte e na cultura o boto-tucuxi é reverenciado nas festas do Amazon Fest todos os anos, além dos terreiros das celebrações em povoados e aldeias ribeirinhas.
Ainda no capítulo da pesca danosa ao meio ambiente, cabe ao ICMBio a fiscalização. A invasão das comunidades, a pesca que denota haver mais peixes nessas áreas do que noutras. E a salvação é a preservação do ambiente, para permitir a reprodução das espécies. Que assim seja!
Resta-nos a poesia da selva, como a de uma mato-grossense inspirada:
Tuas estórias contar,
Veja só que ironia
Em banco se transformar.
Reaja, boto, reaja!
No rio volte a nadar”