LEANDRO GOMES DE BARRO, O CORDELISTA –

Nas minhas horas de deleite, nas leituras desse mundo globalizado e confuso, ligado e antenado às coisas boas que circulam nas redes sociais, fugindo sempre do besteirol entre Trump e Kim Jong-un, recebo e me deparo com a riqueza da figura poética do cordelista paraibano, Leandro Gomes de Barros (1865-1918), denominado e reconhecido pelo nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade (Itabira/MG-1902- Rio de Janeiro-1987), como o “Príncipe da literatura de cordel”.

Sou agraciado pelo envio (via internet) de uma entrevista do genial escritor, poeta, ensaísta, professor e dramaturgo Ariano Suassuna ( 1927-2014), no ano de 2012, na qual o entrevistador pergunta a Ariano se ele acredita em Deus. O escritor afirma categoricamente que sim, pois sem Deus a vida não teria sentido algum. Deus para mim, afirma Suassuna, é uma necessidade.

Nesse sentido e na sua interpretação, cita a figura do poeta cordelista Leandro Gomes de Barros, que segundo Ariano, foi quem melhor definiu a questão do sofrimento humano e a presença de Deus entre nós. E reforça, melhor até do que o filósofo francês Albert Camus, e num lance de rica e genial memória, declama o poema: “O mal e o sofrimento”

Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?

Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?

Perguntaria também
Como ele é feito
Que não dorme, não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?

Por que existe uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito
Moramos no mesmo canto.

Quem foi temperar o choro
Que acabou salgando o pronto?

Quem foi o cordelista Leandro Gomes de Barros?

Paraibano, nascido no município de Pombal/PB, no ano de 1865, na Fazenda da Melancia. Educado pela família do Padre Vicente (1823-1907). Mudou-se para a Vila do Teixeira, que se tornaria o berço da Literatura Popular nordestina.Depois foi morar em Jaboatão, Vitória de Santo Antão e Recife. Foi pioneiro como editor de folhetos, depois conhecidos como cordéis, pela forma que eram expostos para venda, pendurados em cordas ou barbantes. Foi proprietário de uma pequena gráfica, a Typografia Perseverança, com exclusividade para imprimir e distribuir seus cordéis.

No ano de 1976, o poeta Carlos Drummond de Andrade publica, no Jornal do Brasil, a crônica: “Leandro, o Poeta”, na qual lhe trata como “Príncipe dos Poetas”, enfatizando o caráter popular de sua literatura. A bibliotecária Lúcia Gaspar, da Fundação Joaquim Nabuco, afirma que a obra do cordelista, abrange todos os gêneros e modalidades da literatura popular: romance, gracejo, peleja, sátira e crítica social.

Na avaliação do historiador e folclorista Câmara Cascudo (Natal-1898-1986), a obra de Leandro chega à boca do povo – “soletrado com amor e admirado com fanatismo, no seu título “Vaqueiros e Cantadores”. Leandro escreveu para sertanejos e matutos, cantadores, cangaceiros, almocreves, comboieiro, feirantes e vaqueiros”.
Morreu no ano de 1918, na cidade do Recife.

 

Berilo de CastroEscritor

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2 respostas

  1. Ótima lembranças do Cordelista Leandro, vale salientar que a Paraíba é rica em cordelistas. Trabalhei com Ariano Suasuna em auto da compadecida fazendo o papel de demônio. No teatro de Natal ele ate autografou o livro com a seguinte frase. Ao demônio com azas de Anjo .”

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