LEMBRANÇA DE GLORINHA –

Pessoalmente, conheci Glorinha Oliveira no ano de 1966, quando ela ingressou no cast da Rádio Cabugi, integrando o naipe de locutores e atores contratados no auge da hegemonia radiofônica experimentada pela emissora “dos Alves”.

Mas de outra forma eu já a conhecia de muito antes. Desde quando ela brilhava nos microfones da Rádio Poti, a pioneira da radiofonia e presença marcante na história de Glorinha. Do tempo em que enchia o palco da Poti com sua voz inconfundível, suave e docemente afinada, para o deleite e encanto dos ouvintes. Ou protagonizando as histórias românticas celebrizadas pelas novelas que detinham grande audiência nos ditos horários nobres e pelas populares e adoradas personagens humorísticas dos programas semanais. Foi através do rádio que aprendi a reverenciar essa extraordinária artista, cujo talento sempre a colocou ao nível das grandes damas da arte no Brasil.

Escrevo para lembrar as experiências que tive ao compartilhar com ela momentos de alegria e desfrutar da sua atenção como pessoa desprendida e generosa. Coadjuvante nas novelas da Cabugi, tive a honra de contracenar com uma rádio atriz da qual era fã desde menino, desde a adolescência, quando, juntamente com a minha mãe, grande admiradora, ouvia suas audições dos estúdios e nos programas de auditório que enchiam o fim de semana, e guardando com zelo e carinho as fotos de Glorinha publicadas nos jornais.

Vêm à minha mente os ensaios realizados pouco antes das gravações das novelas. O estúdio era o mesmo das transmissões. A Rádio saía do ar pouco antes da meia noite e, só então, eram gravados os capítulos. Aos vinte anos, quase menino, estava eu em meio aos grandes nomes, alguns que já tinham brilhado na Rádio Poti. Sandra Maria, Nilson Freire (seu esposo), Lourdes Nascimento, Doris Sandra, Paulo Ferreira, Clarice Palma, Nice Fernandes, José Wilde, Glorinha Vitor, José de Souza, Francisco Elias e, naturalmente, a grande estrela Glorinha Oliveira, que, nos intervalos, brindava os colegas cantando as músicas do seu repertório, acompanhada pelo filho ao violão. Não dá para esquecer os momentos em que pude ouvir Dindi, Manhã de Carnaval, Na Baixa do Sapateiro, Ai Ioiô e tantos sucessos brasileiros, diante de um ídolo da infância.

Noites inesquecíveis de prazer, trabalho e deleite, desfrutadas na companhia de profissionais dedicados, competentes e amistosos, espelhados na figura especial daquela que já merecia o título de Rouxinol Potiguar. Glorinha era o epicentro do calor humano que exalava do grupo, e para ela convergiam atenções somente destinadas a uma verdadeira estrela. Ela, porém, com sua proverbial e conhecida humildade, nunca considerou nem reconheceu esse status informal, dividindo generosamente com todos o resultado e as repercussões do seu trabalho e do seu talento.

Não tendo seguido carreira no Rádio, perdi o contato direto com Glorinha. Permaneci dedicado apreciador da sua voz, sem perder oportunidade de ouvi-la onde quer que ela se apresentasse. Nos encontros fortuitos que mantivemos, sempre se mostrou a mesma pessoa carinhosa e amável, mesmo quando, já debilitada, parecia não me reconhecer. Na sua prostração, procurei sempre informações suas através de Aécio, um dos seus dois filhos. O outro, Queirozinho, aquele que a acompanhava ao violão, havia falecido em um acidente automobilístico.

São essas as minhas principais lembranças de Glorinha Oliveira, uma artista potiguar, de reconhecido e, por algumas vezes, não reverenciado talento.  Mereceu da vida muito mais do que lhe foi dado. Mesmo com chances de cruzar mais amplas fronteiras artísticas, preferiu permanecer como estrela da sua terra, brilhar no seu próprio firmamento, plantar no seu próprio chão e generosamente entregar sua vida e sua arte à enorme corrente dos seus eternos admiradores.

 

 

 

 

 

Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais

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