LEMBRANÇAS –

Diz um amigo, da minha idade, que uma das poucas coisas boas da velhice são as suas lembranças. As boas, pois as ruins você deve esquecer. Concordo com ele em gênero, número e grau.

Desta vez, me permito contar uma história da minha infância, aí pelos 9/10 anos, quando aluno do Colégio Pedro II, que as idiotices da ditadura Vargas obrigaram a mudar de nome, pois somente o do Rio se poderia chamar assim. Professor Severino Bezerra, dono  do Colégio, mudou o nome para Ruy Barbosa. Para nós, que lá estudávamos lá, continuou sendo Pedro II. Mas, vamos a história.

Tinha um colega, já falecido, com quem eu brigava quase todo dia. Éramos amigos e as nossas divergências nunca atrapalharam nossa amizade, que se prolongou pelo tempo, mesmo depois de terminarmos nossos cursos. Tomamos caminhos diferentes, ele foi para São Paulo e terminou morrendo lá.

As nossas brigas, olhadas hoje, eram as mais sem motivo possível. Naquele tempo, tínhamos um jogo de bilóca, que talvez vocês nem se lembrem mais. A gente jogava com umas bolinhas de vidro, chamadas bolas de gude. O objetivo era você “tilar”, ou seja, acertar na bola do adversário. Havia um jogo de brincadeira, que não dava briga, e um outro que chamávamos “de vera”, ou seja, apostando nas bolinhas. Quem acertava, ganhava a bola do adversário. Daí surgiam as brigas, pois o adversário podia não aceitar o seu julgamento. Dizia você não acetou, você insistia e surgiam as brigas.

Briga de menino buchudo, besta, sem mortos nem feridos. Quase todos os dias, no recreio e após os desentendimentos, trocávamos bofetes até a chegada da turma do “deixa disso”. Cinco minutos depois, estávamos jogando novamente.

Mas, o bom dessa história era o ritual inicial. Antes da briga, a gente riscava uma linha no chão e dizia, quem atravessar essa linha é um fdp. Isso tanto podia acabar com a briga como incitá-la.

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN

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