LEMBRANÇAS DO AMIGO MARCO MACIEL –

Hoje, 24, o jornalista pernambucano Magno Martins lança no Rio de Janeiro o livro “O estilo Marco Maciel”.

Convidado, não pude comparecer.

Iniciei a leitura e já percebi a linguagem polida e escorreita do autor Magno Martins, que conheci em Brasília.

Jornalista de credibilidade.

Como repórter viajou com o senador Marco Maciel e assimilou o estilo de um dos políticos mais éticos do país.

Recordações – Em Brasília, como deputado federal no RN, em 1974, fui vizinho de Marco Maciel.

Tornamo-nos amigos.

O Fluminense, uma paixão dele e minha, uniu-nos nas tardes de domingo para assistirmos os jogos no Maracanã, com imagem de TV ainda branco e preta.

Em conversa paralela ao jogo, descobrimos uma coincidência: ele casara com Ana Maria, no dia 30 de dezembro de 1967, data em que casei com Abigail.

Outra coincidência: o casal passou a lua de mel no Hotel Miramar, em Copacabana, onde também estive hospedado, na lua de mel e na mesma data.

Primeira dama – Em Brasília, a minha esposa tornou-se amiga de Ana Maria.

Em dias alternados, cada uma levava as crianças para o colégio.

O ex-presidente FHC considerou Maciel o “vice dos sonhos”, pela sua discrição e lealdade.

Por justiça, Ana Maria Maciel deve ser tida como exemplo da “primeira dama dos sonhos” pela sua postura sóbria, durante as 86 vezes em que Marco Maciel substituiu FHC na presidência da República.

Convite – Marco era secretário geral da ARENA e me convidou para participar de um programa de TV e rádio, transmitido para todo o país, ao lado dos deputados Francelino Pereira, Zezinho Bonifácio (líder à época) e outros de destaque na política nacional.

Inveja – O radicalismo da política potiguar não admitiu a minha ida ao palco nacional da TV e rádio.

A inveja recrudesceu violentamente.

Queixas pelo convite foram feitas diretamente a Marco Maciel.

Levantaram todo tipo de dúvidas para me incriminar.

Nunca pedi a proteção de Maciel.

Meses depois desse episódio, numa demonstração de amizade, Marco colocou-me como membro efetivo do Diretório Nacional da ARENA.

Disse que era um prêmio pela minha atuação parlamentar.

Vieram novos protestos do RN.

Audiência com Figueiredo e Geisel – Pressionado pela avalanche de acusações inverídicas, infelizmente acolhidas pela imprensa, aconselhei-me com Marco se era recomendável esclarecer os fatos diretamente ao general Figueiredo, chefe do SNI e ao presidente Geisel.

Ele achou que sim.

O líder do partido conhecido como Zezinho Bonifácio intercedeu e consegui as duas audiências.

O deputado José Bonifácio era descendente direto de José Bonifácio Andrada e Silva, considerado o “Patriarca da Independência”, sendo a quarta geração da família no parlamento.

Nas audiências, envolvido em clima de emoção, pedi aos dois que dissessem de que me acusavam para oferecer a defesa.

Afirmei, que bastaria a prova de uma acusaçãocontra mim e aceitaria ser punido.

Tinha como mostrar com clareza, que todas eram absolutamente inverídicas.

O general Figueiredo tranquilizou-me, dizendo que nada seria feito, sem a minha defesa.

O general Geisel impassível, carrancudo, na presença do seu assessor Humberto Barreto, silenciou e em poucos minutos encerrou a audiência, quando ainda me defendia.

Não quis me ouvir.

Percebi que a sentença estava dada e ele atenderia as lideranças tradicionais do RN, que exigiam a cassação do meu mandato.

Sai chorando.

Cassação – Mesmo sem responder qualquer processo judicial, no Tribunal de Contas ou órgão revolucionário (como nunca respondi, até hoje), fui surpreendido no dia 4 de agosto de 1975 com a cassação do mandato, sem que o ato publicado no DOU mencionasse nenhuma causa para a punição.

Ficou difícil a sobrevivência da familia, pelo afastamento compulsório dos cargos de professor universitário e procurador federal.

A cassação fora para satisfazer a voracidade das oligarquias potiguares, que temiam minha presença na política.

O meu pecado era ser originário de uma família humilde, sem tradições ou poder econômico, e ter conseguido uma vaga no clube fechado de deputados federais do Estado.

Além disso, estava me afirmando como parlamentar.

Apresentei uma proposta inédita de criação do crédito educativo no Brasil, que o ministro da Educação a época, senador Nei Braga, chamou-me e disse que iria incorporar ao governo, como realmente incorporou, mesmo com a minha saída do Congresso.

Após a cassação, Marco visitou-me e demonstrou solidariedade.

Diante da dureza do regime, nada podia fazer, nem eu pedi.

Palmas na missa – Retornando a Natal, dediquei-me a advocacia e me dei bem.

Certa vez, por volta do ano 1984, Maciel avisou-me que iria a Natal.

Recebi-o e depois do compromisso agendado fomos assistir à missa do Padre Teobaldo, a pedido dele.

Não era difícil identificá-lo pelo tamanho do pescoço longilíneo

Quando o sacerdote percebeu a presença dele na igreja solicitou aos presentes uma salva de palmas.

Justo prêmio ao estilo de vida pública, daquele que em sua terra natal era considerado “um marco de Pernambuco”.

Voltei à política, após a anistia, quando completei o exercício de seis mandatos de deputado federal, vice-prefeito de Natal e primeiro suplente de senador.

Amigo – Lamentei a morte de Marco Maciel.

Como amigo, ele preencheu as exigências de Confúcio, quando disse:

“Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade”.

 

 

 

Ney Lopes –  jornalista, advogado e ex-deputado federal

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