LISBOA REVISITADA –
Lisboa é uma cidade amável, amada. Tem caráter. É histórica e busca o futuro. É cheia de surpresas e sabe fazer o visitante pensar e sentir-se parte dela.
Hóspede de um hotel sem maiores pretensões, no agitado bairro do Chiado, começamos a admirar a singularidade. No quarto, de um lado o painel de um navegador olhando o mar; do outro, uma inscrição camoniana: “As armas e os barões assinalados / que da ocidental praia lusitana / por mares nunca dantes navegados…”.
Há quem goste de lembrar tragédias. Bem perto, estão as ruínas do Convento do Carmo, devastado, em 1755, por um incêndio. Um pouco mais abaixo, a movimentada Praça de Camões. Logo a seguir, ninguém deve se negar a comer um pastel de belém em “A Brasileira” e lá bater uma foto ao lado da estátua, em bronze, de Fernando Pessoa.
A maravilha continua com a Livraria Bertrand que funciona há “apenas duzentos e noventa anos”. É recorde universal de permanência em serviço. A fachada é ornada por lusitaníssimo azulejo. Nas suas prateleiras, tudo o que há de bom daquilo que foi publicado em Portugal e em outros países.
Uma curiosidade: a continuada publicação do “Almanaque Bertrand”, com tudo o que costumavam ter os almanaques. Variedades para servir ao saber, lazer e entretenimento. A edição que atinge 2022 está recheada com o mapa dos fusos horários, palavras cruzadas, textos de nobres escritores portugueses e dos poetas brasileiros Olavo Bilac e João Cabral de Melo Neto.
Nas proximidades, velhas igrejas embelezadas pela arte e riqueza provenientes da enorme quantidade de ouro levada do Brasil. Calcula-se que novecentas toneladas de ouro entraram pelo Tejo.
A cidade faz lembrar ao turista as grandes navegações. Portugal foi o primeiro país a globalizar o planeta. As suas conquistas foram da Ásia à Oceania, passando pela África e atingindo a América. Dois anos depois da descoberta do Brasil, já consta de um mapa a região do hoje Canadá, como domínio do rei de Portugal.
Nenhum monumento arquitetônico impressiona tanto quanto o Mosteiro dos Jerônimos. Nenhum mais significativo de lembrança que a Torre de Belém. Tudo leva a refletir. A grandiosidade do Tejo, ultrapassável pela ponte Vasco da Gama, a maior da União Europeia.
O Parque das Nações, que abriga o oceanário, é mostra de pungência e modernidade. O viajante depara-se com o “Gil”, símbolo da Exposição Universal. O Gil faz recordar Gil Eanes, o navegante que primeiro dobrou o Cabo das Tormentas, o Cabo da Boa Esperança. Bem perto desse símbolo, um enorme e gracioso animal, um gato de muitos metros de altura que convida para a foto.
Lisboa é cultura que fundamenta o turismo. A sua gastronomia é de fazer inveja. Em tudo a cidade dá lições de bem receber, agradar, alargar o pensamento.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN
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