diogenes

É uma história íntima, livro feito de tempo, diálogo com o passado, tem cheiro de guardado, pequeno grande livro. Li de um fôlego porque impossível parar de sorver sabores de encantamento. O seu destino é ser sublinhado nas passagens mais expressivas. E ser revisitado, com o carinho que traz a presença de tempos idos.

 A autora, antiga aluna do Colégio Imaculada Conceição, é assistente social e jubilada professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tive o privilégio de conhecê-la como colega de Ioga e perceber, no espaço Corpo e Mente, que é uma pessoa de sensibilidade e fortes tiradas de inteligência. Ela e Jessé Dantas Cavalcanti legaram ao Estado quatro filhos admiráveis e admirados (João Helder, Ana Célia, Carito e Mário Ivo). São conhecidos e reconhecidos por seu talento, retidão, amizade, respeito merecido. E também poesia.

Vila Soledade é reconstrução diária e mágica de um lugar em que tudo de bom acontece, lá até existem roseiras disputando concurso de beleza. Nele, Crinaura se renova, vira flor de lembranças e imaginação. E vai tirando como de uma cartola mágica objetos que quase só existem em literatura: porta-chapéus, objetos de ágata, sisudo e nobre fogão inglês, cadeiras de espaldar, étagèrs. É uma casa que prova que a infância é infinita.

 A memória tem muita força. A memorialística também. São acrescidas de beleza e emoção quando encontram o tempo buscado. A reflexão do espelho do que se passou, a visão proustiana da vida. Marcel Proust (1871-1922), com absoluta suavidade do dizer, revolucionou o mundo literário das memórias. No Brasil, Pedro Nava, proustiano incansável, que começou a escrever na maturidade, tem nobres parceiros. A viagem no tempo, reinvenção da memória pode, em Natal, como é o caso, tornar a vida feliz.

Saindo da Vila da Soledade, o livro encontra singulares personagens como Maria Bola de Ouro, que rasgou a “flor da virtude”. A donzela apaixonou-se por um moço louro. Tristemente, ele era casado e o Senhor dos Guarapes não consentiu. Maria fugiu galopando com o seu príncipe bonito em um cavalo alazão pelas estradas sem fim da imaginação.

Quem tiver sensibilidade e jubilismo, se não tiver este livro, vai ficar sem saber o que está perdendo.

Diógenes da Cunha LimaAdvogado, Professor, Poeta, Escritor, Presidente da Academia Norte-riograndense de Letras    [email protected]

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