LIVROS E CAFÉS –
Li A Insustentável Leveza do Ser aos 12 anos. Desde então amo ver as pessoas comendo. O ritual de prepararem a garfada perfeita. O mastigar lento e despreocupado de alguns. O mastigar veloz e desconfortável de outros.
A sutil diferença entre homens e mulheres se posicionarem diante do seu prato. A forma como Ela abre um pacotinho de adoçante. A forma como Ele mexe intempestivamente seu cappuccino, quase fazendo transbordar o conteúdo. A conversa arrastada que o café impõe. A conversa veloz que a pizza exige.
Sento em cafés e restaurantes e muitas vezes minha mente foge em pensamentos olhando este ou aquele desconhecido bebendo seu chá ou mordiscando seu filé. Qual o motivo de escolher este prato? De comer nesta velocidade? De pausar o ato de comer por um tempo, descansando seus talheres na borda do prato e olhar para os lados, reflexivo, voltando ao seu ritual inconscientemente até finalizar a refeição? Medo? Preocupação? Cansaço?
Acho que este livro me moldou um pouco… Aliás, todos os livros que eu consumi ou os que me consumiram, moldaram-me, deixaram marcas na minha forma de viver, de pensar.
Talvez por isso me sinta tão incomodada pelas escolas hoje usarem como livros didáticos Machado de Assis em quadrinhos ou Os miseráveis na versão resumida. Como vai se crescer no hábito da leitura perdendo os detalhes mais confortáveis à alma? Não vejo isso de forma saudável.
Enfim, caminho só pelo shopping enquanto nosso caçula se encontra com um amigo da escola.
De tempos em tempos faço uma pausa. Para um café. Para um chá. Não sinto a solidão. Perco-me em pensamentos olhando os demais à minha volta.
Nestas horas, agradeço a Kundera por ter me ensinado a observância do outro… E lamento que muitos não sintam prazer na leitura…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora