A imagem de garis tirando lixo de uma carroça e jogando o material na orla da praia em Baía Formosa, no litoral Sul potiguar, ganhou as redes sociais. A prefeitura do município confirmou que a imagem é atual e disse que o lixo é o mesmo que foi retirado do litoral nos últimos dias. De acordo com a prefeitura, o material está sendo ‘guardado’ na areia da praia até que seja dada uma destinação.
Desde a semana passada, pelo menos seis toneladas de lixo apareceram em praias do Rio Grande do Norte. O litoral da Paraíba também foi atingido. Ainda não se sabe a origem deste material.
Segundo a Secretaria de Meio Ambiente da cidade, o material registrado nas imagens é o lixo trazido pelo mar e depositado nas praias do município desde o dia 20 de abril. Ele está sendo recolhido e colocado em duas “centrais” na orla da praia. O local mostrado no vídeo é uma das duas centrais, segundo confirmou a secretária Bernadete Leite.
O município, porém, negou que haja risco de o lixo ser levado de volta ao mar pela maré, como afirmado pelo autor do vídeo. Segundo a prefeitura, o material foi depositado no local para facilitar a logística de transporte. Bernadete afirmou ao Portal G1 que o material deve ficar nos dois pontos até a investigação sobre a origem do lixo ser concluída. O único lixo já levado do local foi o hospitalar, segundo ela.
“Esse lixo ainda está lá, por enquanto, porque continua essa coleta. Assim que a gente concluir a coleta e tiver autorização, o pessoal terminar essa investigação, a gente vai tirar, vai ter uma destinação. Nossa orla é muito grande, são 10 praias e uma extensão de 27 quilômetros. Então o lixo está sendo recolhido e colocado nessas centrais para futuramente ser removido”, afirmou a secretária Bernadete Leite. Ela ainda afirmou que a operação está acontecendo com anuência dos órgãos ambientais.
O Idema afirmou que a orientação era de que o lixo fosse recolhido e deixado separado, porém em um aterro.
Segundo o município, ainda não foi feita pesagem do lixo, mas a estimativa é de que sejam recolhidas entre 3 e 4 toneladas de lixo.
Estados criam rede de apoio
No Rio Grande do Norte, o lixo atingiu praias de Nísia Floresta, Tibau do Sul, Canguaretama e Baía Formos. Segundo o Idema, informações mais recentes apontam que as cidades de Natal, Parnamirim e Senador Georgino Avelino também teriam recebido resíduos sólidos. Porém, o órgão afirmou que os relatos recebidos foram de moradores e ainda não houve comunicação formal das prefeituras.
O Consórcio Nordeste formou uma rede de apoio entre estados da região para enfrentamento às toneladas de lixo que apareceram na orla do Rio Grande do Norte e Paraíba desde o dia 16 de abril. Especialistas deverão ser enviados pelos estados para contribuir na perícia do material e investigação sobre a origem e responsabilidade pelo dano ambiental.
Segundo o Instituto de Desenvolvimento e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte, técnicos do órgão, da Agência Estadual de Meio Ambiente do Pernambuco – CPRH, além de perito ambiental da Polícia Federal fizeram uma visita técnica a praias atingidas pelo lixo no Rio Grande do Norte na terça-feira (27).
Além da rede de apoio entre estados, a reunião da Câmara Temática de Meio Ambiente do Consórcio definiu medidas emergenciais, como:
- Criação de protocolo de procedimentos específico para orientar os municípios litorâneos como agir diante do aparecimento nas praias de grandes quantidades de resíduos sólidos vindo do mar.
- Envio de especialistas dos Estados para contribuir com o Rio Grande do Norte e a Paraíba no mapeamento, perícia, análise do material e identificação do(s) causador(es) do dano ambiental.
- Consulta e formação de parcerias junto a universidades e instituições de pesquisa para aprofundar as iniciativas de investigação com uso de mapeamento georreferenciado.
- Orientação aos municípios para que reforcem a fiscalização junto às empresas prestadoras de serviços de limpeza urbana, transporte e destinação de resíduos sólidos.
Toneladas de lixo foram retiradas de praia de João Pessoa desde o dia 16 de abril. No Rio Grande do Norte, as prefeituras de Baía Formosa, Canguaretama, Nísia Floresta e Tibau do Sul registram mais de seis toneladas recolhidas de suas praias desde o dia 20. Entre materiais encontrados, há inclusive seringas descartáveis.
Origem desconhecida
O diretor geral do Idema, Leon Aguiar, afirmou que entre o material coletado há uma etiqueta vinculada ao município de Maragogi, em Alagoas, e uma do município de João Pessoa, na Paraíba, mas a maior parte do material tem identificações associadas a Pernambuco.
Segundo o Idema-RN, os municípios atingidos também informaram presença de vegetação característica de região de água doce, o que também indicaria a probabilidade do incidente ter advindo das enchentes, ocorridas recentemente no Nordeste, que podem ter arrastado resíduos depositados em rios e córregos.
Ainda de acordo com o Idema, o superintendente de Meio Ambiente de Pernambuco, Bertrand Sampaio, considerou que é possível que as chuvas intensas de 9 a 10 de abril, na região metropolitana do Recife, possam ter contribuído com o caso.
Até o momento, os Estados de Alagoas, Sergipe e Bahia não encontraram registros do material vindo do mar.
Polícia Federal, MPF e Ibama investigam
A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar a origem do lixo que chegou às praias no Litoral Sul do Rio Grande do Norte. Segundo o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do estado (Idema) os municípios potiguares já contabilizam mais de seis toneladas de lixo colhidas. O Ministério Público Federal do Rio Grande do Norte e o Ibama também realizam investigação sobre a origem do lixo.
Lixo no mar
Um vídeo registrado por um pescador mostra lixo flutuando no mar a cerca de 3 quilômetros da costa no litoral sul do Rio Grande do Norte, na altura do município de Nísia Floresta – um dos mais atingidos pelas toneladas de lixo. Na praia de Tabatinga, local em que o pescador encontrou o lixo dentro do mar, também foi registrada a morte de quatro tartarugas e um golfinho. Após análise de pesquisadores do projeto Cetáceos da Costa Branca, da UERN, foi descartado que essas mortes tenham relação com o lixo encontrado.
O que foi encontrado no lixo no RN?
Em Baía Formosa, foram encontrados seringas, tubos para coleta de sangue, documentos, restos de roupas e sapatos. Em Tibau do Sul, um relatório técnico apontou que o lixo continha fragmentos de madeiras, garrafas pets, recipientes plásticos, isopor, sacos plásticos, máscaras descartáveis e seringas. Em Nísia Floresta, foram encontrados plásticos, restos de embalagens, sapatos, garrafas e também um tubo de coleta de sangue.
Fonte: G1RN