LOUCURA POR PITOMBA –

Desde menina de 9 anos, em Nova-Cruz (RN), eu não deixava de ir à feira com a minha mãe, às segundas feiras. Não deixava de levar uma cestinha de palha que minha mãe havia me dado para eu colocar “minha feira” particular. Orgulhosamente, eu colocava minha cestinha no braço e a primeira feira era a minha: Um cacho de pitomba, um litro de umbu (medido numa lata vazia de óleo “Benedito”) e algumas goiabas. Mas a minha preferência era pelas pitombas.
A feira da nossa casa era levada na cabeça de um balaieiro, Seu Severino, que continuou fazendo o mesmo serviço, mesmo depois que conseguiu ser aposentado pelo FUNRURAL.
Era um homem humilde e trabalhador, de baixa estatura, moreno, magro e sério.

Eu voltava da feira feliz da vida, com meu cacho de pitomba realçando na cestinha.

Nunca tomei suco, ponche, nem comi doce ou geleia de pitomba, em Nova-Cruz. Lá, pitomba só servia para se

chupar e comer a polpa, com muito cuidado para não engolir o caroço, que é grande para o tamanho do fruto.

Não servia nem para lanche, pois não satisfazia à fome. Não dava sustança. E as propriedades nutrientes da pitomba eram desconhecidas.

E a deliciosa frutinha ainda deixava os dentes dormentes, se chupadas com exagero, como eu fazia.

Mesmo assim, eu não abria mão do meu cacho de pitomba, no dia da feira em Nova-Cruz.
Não matava a fome, mas eu gostava; deixava meus dentes dormentes, mas eu nem ligava.

Protegida por uma casca dura e redonda, a polpa da pitomba é esbranquiçada, suculenta, levemente ácida e

adocicada. É muito difícil alguém não gostar de pitomba.

Se um fruto pode ser simpático, é o caso da pitomba, além de ser gostoso. Faz parte das saudades da minha

infância.

Naquele tempo, bem distante da era cibernética, não havia como se pesquisar sobre qualquer coisa, muito menos

sobre pitomba.

Depois de adulta, minha loucura por pitomba diminuiu, mas não se acabou. As “jaquetas” dentárias me obrigaram a

controlar minha ansiedade de chupar pitomba.

A “loucura” continua viva, como uma brasa escondida na cinza. Continuo gostando muito de pitomba. É um vício do qual nunca consegui me livrar. Não posso ver um cacho de pitomba, que eu compro.

Fiquei feliz e surpresa, certo dia, ao me deparar com as qualidades nutrientes da pitomba, no Google:

“Apesar de pequena, a pitomba possui grande quantidade de vitaminas, fibras e propriedades que auxiliam no

combate ao envelhecimento precoce, à prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, além de fortalecer o

sistema imunológico. É rica em vitamina C, ferro e antioxidantes.
A Pitombeira está presente na maior parte do território brasileiro, especialmente na Amazônia e na Mata Atlântica.

Em Pernambuco, Região Nordeste, a festa de Nossa Senhora dos Prazeres, festejo religioso tradicional, realizada no Parque Histórico Nacional dos Guararapes, em Jaboatão dos Guararapes, também é conhecida como Festa da Pitomba.
A Pitombeira, árvore que pode chegar a medir até 12 metros de altura, é cultuada no Recife, e serviu de inspiração a poetas, compositores e foliões carnavalescos, influenciando a criação do Bloco da Pitombeira, com belas músicas pertinentes ao tema.
A Troça Carnavalesca “Pitombeira dos Quatro Cantos” nasceu em 17 de fevereiro de 1947, com um grupo de amigos fazendo versos embaixo de um pé de pitomba, nos Quatro Cantos, em Olinda. Segundo os historiadores, eles saíram pelas ladeiras, nus da cintura para cima, com galhos de pitomba, fazendo belíssimas canções.
Três anos depois, os foliões passaram a se fantasiar de acordo com o tema e com elementos da cultura popular do Carnaval de Pernambuco. Esse famoso bloco de carnaval visa a preservação do frevo pernambucano, característico da folia do Estado.

O “Hino da Pitombeira”, da autoria do compositor Alex Caldas, foi composto em 1950.
Esse belíssimo hino é o mais conhecido e tocado em Pernambuco, durante o carnaval.
Música e letra são contagiantes:
“Nós somos da Pitombeira
Nós brincamos muito mais
Se a turma não saísse
Não havia carnaval
Se a turma não saísse
Não havia carnaval

Bate-bate com doce eu também quero
Também quero, também quero
Bate-bate com doce eu também quero
Também quero, também quero…………………………..

………………………………………………………………..”

Por sua vez, o compositor Alceu Valença gravou “PITOMBA PITOMBEIRA” em 1976, que diz:

“Ó lá, ô lô, morena, flor de cheiro
Sai dessa roda, quebra esse cordão
Te dou um doce, um cacho de pitomba

Vem pro meu lado e sai da contra-mão…………..
………………………………………………………………….”

Essas músicas por mim citadas lavam a minha alma e me dão contentamento, pois a pitomba faz parte das doces recordações da minha infância em Nova-Cruz.

 

 

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora

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