LUCAS, O MONSENHOR –

 Eu conheço monsenhor Lucas Batista Neto há anos. Desde quando ele exercia o ministério do sacerdócio na antiga Catedral Metropolitana, na Praça André da Albuquerque. O monsenhor casou meus três filhos e batizou dois dos cinco netos, daí o estreitamento de nossa amizade. O que não é privilégio apenas meu, diga-se de passagem, mas da multidão de fieis que frequenta as igrejas onde ele celebra ou celebrou sua vocação.

Homem simples, não se afeta quando o interlocutor esquece o título de monsenhor e o trata por padre. Exercita com perfeição a singularidade de prender a atenção dos ouvintes de suas homilias com exemplos de fatos do nosso dia a dia.  Sabe como ninguém desanuviar o clima formal das cerimônias que preside, amenizando ansiedades sem escapulir da liturgia de cada ato santo. É um craque na comunicação com as massas. A vocação de pastor aflora-lhe à pele. Desnecessário afiançar o quanto preserva os votos de humildade, pobreza e obediência.

Caicoense, 75 anos (23 de junho), devoto de Santana, São Francisco de Assis, Santa Teresinha, São João Batista e de Nossa Senhora, mantém uma agenda cheia e variada no cotidiano da paróquia. Celebra a eucaristia diariamente, batiza, crisma, casa, unge enfermos, confessa, aconselha, comanda diversas pastorais e procura estar perto do próximo numa ação humanitária permanente. Os números que acumulou ao longo dos 48 anos de sacerdócio são impressionantes: 16.061 batizados, mais de 4.000 casamentos e outros tantos milhares de sacramentos, que já lhes fogem da contabilidade da memória.

E vai mais além. Durante anos divulgou o ensino religioso no nosso estado, atuou na formação de leigos, foi vigário episcopal e ainda arranjou tempo para construir templos: seis capelas e duas igrejas. Depois de 26 anos celebrando missas dominicais pelo sinal da afiliada local da TV Globo, saiu da telinha para dar lugar ao padre Marcelo Rossi. Em Natal, na titularidade da Paróquia de Santa Teresinha passou 25 anos, e ainda estaria lá se assim quisesse.

Afastou-se para uma vida de contemplação no Eremitério de Emaús. Não esconde de ninguém que nesse período, por falta de condições financeiras, precisou da colaboração de amigos e paroquianos para manter-se. Pediu à arquidiocese para retornar ao contato direto com o povo, e lá se vão doze anos na Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório, em Mirassol.

É um batalhador incansável de fé indobrável e larga ação pastoral. Um clérigo que sabe dosar muito bem firmeza com docilidade. “O guia perfeito para quem deseja conhecer a Terra Santa!” – é o depoimento unânime de fieis, seus acompanhantes nessas viagens. Por conta do carisma e da fala fácil tentaram-no com a política. Esquivou-se por mais de uma vez.

No meu entendimento, Lucas detém o perfil ideal cobrado pelo Papa Francisco para revitalizar a Igreja: simplicidade, pobreza, honestidade, fidelidade aos votos assumidos e proximidade com o povo.

Esta é uma homenagem singela à pessoa do monsenhor Lucas Batista que, ao atingir a idade limite para a titularidade de paróquias, torna-se um pároco emérito a partir do próximo dia 30 deste dezembro. Os seguidores do clérigo poderão encontrá-lo agora, aos domingos, na missa matinal da Capela das Crianças do Educandário das Irmãs de Caridade, na Avenida Rui Barbosa, em Lagoa Nova.

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

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