MAIO? –

Hoje, debaixo do chuveiro quase frio, pela terceira vez no dia, me dei conta que estamos em maio e, normalmente, estaria chovendo horrores na cidade, motivo suficiente para banhos quentes de deixar o espelho embaçado, poder usar um moletom surrado, encher as canecas de chocolate quente e rezar para as chuvas não atrapalharem tanto o trânsito.

Sim, somos egoístas. Nem lembramos dos que ficam sob as marquises da cidade aguardando pequenos grupos distribuírem sopa quente para aliviar o tormento da fome e do frio. Pensamos apenas em nossas vidinhas. Pensamos no asfalto cheio de buracos, nas ruas alagadas e de como isso se repete ano após ano em nossa cidade. E, assim, como o trânsito fica caótico e levamos o dobro do tempo para chegarmos em nosso destino. E sobre os moradores de rua? Seu frio constante? Nem sempre pensamos nisso em nossas camas cheias de cobertores…Como é duro perceber nossas falhas!

Enfim, para este mês de maio, nada de chuva!

Sério! Nada disso aconteceu em março ou abril. E agora, em maio, sinto um calor enlouquecedor e dia sim dia não, penso em cortar meus cabelos que, pela primeira vez na vida estão longos. Olho a minha sombrinha vermelha em forma de coração que só foi aberta duas vezes este ano. Olho os pares de meias com desenhos de coração que gosto de usar para dormir e ainda estão dobradinhos sem terem permissão de sair das gavetas.

Mesmo não gostando de chuva ou de como o cinza do céu me angustia, fico pensando como melancolicamente seu barulho na janela me deixa reflexiva e sinto falta desses momentos que fazem parte da rotina anual da mudança do clima.

Mesmo sabendo que a chuva chove diferente para cada um de nós, dependendo de nosso teto…

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Escritora

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