Como todos, procurei ouvir os vários discursos de posse, ou lê-los em jornais diversos. Nada me surpreendeu. Mais do mesmo, todo o tempo. Como diz o velho ditado, de Norte ao Sul, do Leste ao Oeste, nenhuma novidade.Todos os eleitos, sem praticamente exceção, repetiram o que já se esperava. Cuidar da saúde, da educação, da segurança, da economia, e se repetiam em promessas. Promessas que vimos escutando há anos. Promessas vãs, que se confirmam, em seguida, como vãs promessas. Discursos cansativos, repetitivos. Com afirmações impossíveis de serem confirmadas. Não por que não o desejem. Todos, claro, gostariam de realizar o que pregam. Simplesmente, são impedidos por compromissos políticos, que não os permitem montar equipes competentes, independentes, que ajam com liberdade e desenvoltura. Que possam atender as reais necessidades do povo, e não atender imposições deste ou daquele grupo, que visa beneficiar parcelas menores da comunidade.
Essa mesmice me leva a um livro estou lendo, de autor russo, Sergo Mikoyan, que conta a história dos mísseis em Cuba. Uma versão diferente da americana. Mas reconhece a irresponsabilidade de Kruschev, partindo para uma confrontação que poderia ter resultado em uma III Guerra Mundial. Comenta a visita de seu pai Anastas Mikoyan à Cuba, que acompanhou, logo depois da revolução. Mikoyan (pai) fala do entusiasmo do povo por Fidel e declara não ter entendido não ter ele feito uma eleição de imediato. Essa eleição, que teria ganho sem problemas, pois tinha a simpatia de 98% da população, seria uma resposta aos contestadores da revolução. Mas, observou que “o povo não pedia eleições, em que já não acreditavam, pois elas nunca traziam melhorias, apesar das promessas sempre repetidas em numerosas eleições, nunca concretizadas”. A descrença na democracia é o resultado de tudo isso.
Muito parecido com o que ocorre nas nossas eleições. Sempre damos, talvez por um pouco de ingenuidade, mas muito mais por esperança, nova credibilidade aos novos eleitos. Raramente se realizam nossas renovadas esperanças. Crédulos, continuamos esperando milagres.
Meu receio é que, com tantas esperanças desfeitas após cada eleição, estejamos caminhando para essa descrença na democracia. A abstenção, que foi alarmante – apesar do voto obrigatório – não seria um novo aviso? Fica a pergunta, e a dúvida.
Dalton Mello de Andrade – Ex- Secretário Estadual de Educação e ex- Pro-Reitor da UFRN
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