MANÉ –
O Brasil teve um Mané tão brilhante que, se hoje fosse vivo, não entenderia o que andaram dizendo por aí, que “perdeu”. O Mané tinha nome, prestígio e era a “Alegria do Povo”. E como tal, sempre foi ganhador.
De nome Manoel Francisco dos Santos (1933 – 1983), nasceu no bairro Pau Grande, na cidade de Magé, no estado do Rio de Janeiro. De origem humilde, apelidado de Garrincha, nome de um pássaro muito comum na região onde foi criado, crescido e surgido como um dos grandes jogadores de futebol do mundo. Até hoje é lembrado por sua irreverência em jogar futebol de forma despretensiosa, porém de um encantamento que fazia as torcidas – pró e contra, delirarem de alegria.
Sim, ele era do povo. Extremamente popular e conhecido com o “Anjo de Pernas Tortas” por apresentar seis centímetros de diferença de uma perna para a outra. Tinha também o joelho direito desviado para dentro denominado de ‘Valgo’ fazendo com que os joelhos fiquem mais próximos e os pés mais afastados. Já o joelho esquerdo apresentava o chamado ‘Varo’, ou seja, arqueado, apresentando um desvio da articulação para fora com relação à linha central do membro, fazendo com com os joelhos sejam mais afastados um do outro. Engana-se quem achava e até hoje acha, que ele tinha as pernas arqueadas.
O que importa é que com essas pernas tortas ele ‘”entortava” seus marcadores, a quem, de forma respeitosa chamava-os de ‘Joãos’, em homenagem, digamos assim, a João Berruga, zagueiro de seu time lá em Pau Grande, que tentava marcá-lo com algum êxito, às vezes.
Pois é. Esse Mané, brasileiro, foi um dos maiores jogadores das Copas de 1958 (ao lado de Pelé) e 1962 (protagonista, pois Pelé estava contundido). Aliás, a Copa de 1962 é conhecida pelos brasileiros com a “Copa de Garrincha”, o Mané.
“Didi, Vavá, Pelé / Bailaram lá na Europa / E a Copa veio pra cá (no duro) / Gilmar, De Sordi e Bellini / Famoso trio final / Fizeram do meu Brasil / O Campeão Mundial / Zagallo, Zito e Garrincha / Nilton Santos e Orlando / São os Campeões do Mundo / Que o Brasil está saudando 5 x2.” Foi assim na primeira conquista em 1958 na Suécia.
“A Taça do Mundo é nossa / Com brasileiro não há quem possa! / Êh, êta esquadrão de ouro / É bom no samba, é bom no couro! ” Assim cantamos com a conquista do bi-mundial no Chile.
Os chaveiros, as carteiras de plásticos para cédulas com as figurinhas dos jogadores, as tabelas com as bandeiras das seleções para registrar os resultados dos jogos eram as relíquias que tornavam tangíveis os gols ouvidos pelos rádios, com as narrações de Pedro Luiz e Edson Leite, em 1958 e por Fiori Giliotti em 1962, que até hoje ressoam em nossos ouvidos.
Mané, ele mesmo, Mané foi incluído na Seleção de Futebol do Século XX por escolha de escritores e jornalistas de futebol mais respeitados do mundo. Em 1994 foi eleito para a Seleção de Todos os Tempos da Copa do Mundo FIFA.
Portanto, Mané, você ganhou! Como muitos os brasileiros que todos os dias enfrentam dificuldades sociais de todas as espécies, que não perdem a esperança por dias melhores, que mesmo com a alma “torta” revive o Mané driblando os ‘Joãos’ que se apresentam como invencíveis no campo da vida.
Todos nós somos ‘Mané’?
Se continuarmos tortos de ingenuidades deixando de ser o agente de nossa própria vida para seguir o que os outros dizem, sem refletirmos o que está por trás das aparências, certamente seremos ‘Joões’ sem personalidade.
Precisamos de novos Garrinchas, para que ‘Mané’ não se perca em bocas pequenas.
Ganhou, Mané!
Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras (josuacosta@uol.com.br)
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