MANÉ, VOCÊ PERDEU! –
Era uma vez…
Era uma vez no Reino Animal, há muitos milênios, quando os animais cervídeos viviam pelas pradarias, pululantes, ágeis e graciosos.
Era uma graça inimaginável, a feitio de gazelas saltitantes, alegres e vivazes. Sempre abundaram desde os tempos mais idos da civilização terráquea, quando passaram a ser comidos por leões famintos e bandos de hienas, aproveitadoras dos restos alimentares.
Lei imutável da sobrevivência! O mais forte come o mais fraco, o mais rápido come o mais lerdo, o maior come o menor. É a lei da selva, seletiva e antropofágica.
San Francesco de Assis já enunciava na Úmbria, Itália, na condição de padroeiro dos animais, que é dando que se recebe, enunciado em sua notável oração franciscana.
O franciscanismo é festejado pela Igreja, no dia 4 de outubro.
Em dezembro, dia 17, celebra-se festa litúrgica em homenagem aos animais doentes, cujo patrono é São Lázaro, homem de Betânia.
Daí, chamarem-se lazarentas as criaturas famélicas, doentias, barrentas, barrosas e imundas, que perambulam pelas sociedades.
Conta-nos Esopo, extraordinário fabulista grego, que certa vez um pobre veadinho, a quem chamavam de Mané, em linguajar chulo campestre, vagava pelas campinas verdejantes do mundo da fantasia, quando, muito enfermo, perguntou à pitonisa do Oráculo de Delfos: onde estão os meus direitos de veadagem silvestre?
Ora – meu querido Mané, pobre consulente romano, recém chegado na Magna Grécia, as entidades do orago prenunciam – AB UNO DISCE OMNES (conhecendo um, conhece a todos).
Aí, o pobre veadinho Mané, que não falava nem grego, sequer latim, questionou a pitonisa, indagando-lhe: “o que será de mim”?
Então, uma voz, rouquenha, ribombou nos ares helenos.
Você, perdeu, Mané! Não amola…
MORAL DA FÁBULA – O PAU QUE DÁ EM CHICO, DÁ EM FRANCISCO, ATÉ DE
ASSIS.
José Carlos Gentili – Membro da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Internacional de Cultura Portuguesa