Rinaldo Barros
O Brasil está atravessando um momento muito, muito ruim. E eu escrevo hoje numa tentativa de reflexão sobre as principais causas recentes de nossas desigualdades sociais; sob o comando do capital financeiro, com o apoio e incentivos do PT governo.
Levantamento da consultoria The Boston Consulting Group revela haver no Brasil 130 mil milionários. A fortuna financeira dessa parcela de 0,7 por cento da população é estimada em US$ 900 bilhões de dólares, patrimônio equivalente a cerca de metade do PIB (soma de tudo o que foi produzido no país); avaliado em 2015 como algo em torno de US$1,8 trilhão de dólares. Cotação do dólar no dia de hoje: R$3,67
As fortunas brasileiras cresceram em razão da alta das commodities e do mercado financeiro, especulativo, nunca apostaram em investimentos produtivos nem do desenvolvimento humano.
Como se sabe, commodities são produtos padronizados e não diferenciados, nos quais o produtor não tem poder de fixação de preços; até porque são controlados pela arbitragem nos mercados interno e externo.
Como as tecnologias utilizadas para produzir commodities são universalmente conhecidas e difundidas, criando baixíssimas barreiras à entrada, tais mercados são altamente competitivos. Isso produz uma corrida de dimensões planetárias por aumentos de produtividade e redução de custos através da otimização dos recursos, que vai selecionando os produtores mais eficientes.
Quem não se adapta, desaparece ou é engolido.
Do outro lado da moeda, estudos do IPEA indicam que os dados da desigualdade de renda sofreram alteração para pior, está aumentando a distância entre ricos e pobres. Após 13 anos de governo petista.
Apenas 10 por cento da população continua se apropriando de 80 por cento da riqueza nacional; enquanto 90 por cento dos brasileiros tentam sobreviver com os farelos do bolo.
Os primeiros são os donos de todos os meios de produção no território nacional e os últimos são os potenciais usuários das políticas compensatórias, quer dizer do bolsa-família e assemelhados, que atende atualmente a cerca de 12 milhões de famílias em todo o país, e custa R$27 bilhões de reais por ano.
Uma tentativa – fracassada – de reduzir o desemprego e a informalidade, fenômenos que fornecem matéria prima para os corruptos de todos os matizes, a bandidagem, os soldados do tráfico de drogas e armas, a prostituição; alimentando a legião de lúmpens, drogados e excluídos; de miseráveis, enfim.
Ambos, milionários e miseráveis, foram eleitores do Lula, “gênio” que inaugurou uma nova forma de fazer política (o Lulismo), capaz de obnubilar (pode ir ao dicionário) a mente dos analistas mais experientes.
Um detalhe a mais: historicamente, nossa elite nunca precisou da Universidade nem do sistema educacional, para tocar os seus negócios; o que explica o descaso com investimentos na Educação pública, para a maioria da população. Descaso que também teve a conivência dos governos petistas.
Por falar nisso, agora que assistimos a “Cerimônia do Adeus” do PT governo – é urgente que se estabeleça uma política de Estado para a Educação. Precisamos de um novo projeto político-pedagógico, uma Lei de Responsabilidade Educacional, que seja capaz de (re) encantar novamente os cidadãos brasileiros.
Frente à crueza da realidade urbana, formada nos últimos treze anos, a atual geração foi atingida pela massificação das informações, pelo consumismo, pela competição individualista, pela facilidade de acesso ao consumo de drogas e, principalmente, pelo desemprego estrutural. Na contramão da história, andando pra trás.
O efeito mais sutil e eficaz da política urbanizadora do PT governo foi o estabelecimento de fronteiras invisíveis entre os bairros de cada cidade deste país, de modo a demarcar posições de classe e poder.
Somos um país com estrutura cada vez mais dividida em “estratos” excludentes, de milionários e miseráveis, de mansões (condomínios de luxo) e barracos. A classe média, empobrecida, endividada e estressada, tenta entender e continuar nadando, enquanto ainda respira. Começa a crescer o número de casos de depressão e suicídio entre pequenos empresários ante a possibilidade de falência.
Para completar, o declínio moral do ex-presidente Lula representa uma gigantesca decepção para a maioria do povo brasileiro. Um grande sofrimento para todos os que acreditaram em sua palavra.
Fica a lição: ninguém constrói nada em cima de uma mentira. E o PT mentiu e traiu o povo.
Resumo da ópera: para comemorar mesmo, só temos o processo de Impeachment da Presidente Dilma correndo célere no Congresso Nacional. E o que virá depois do “Adeus PT”?
O que sobrou foi um mar de interrogações, entre mansões e barracos. Que permanecem.
Rinaldo Barros é professor – [email protected]